A resposta em causa foca a formação de compostos com adjetivos pátrios como franco-italiano ou ítalo-francês, que têm uma estrutura de coordenação e são parafraseáveis por «francês e italiano» e «italiano e francês», respetivamente. Os casos em questão – ítalo-brasileiro, franco-italiano e ítalo-francês – têm outro tipo de relação interna entre os seus constituintes, pois são parafraseáveis como «brasileiro descendente de italianos/origem italiana», «italiano de origem francesa» e «francês de origem italiana». Trata-se, portanto, de palavras do mesmo tipo que lusodescendente, «descendente de portugueses», ou afro-americano (ou afroamericano), quando esta forma significa «americano descendente de africanos» (embora a palavra também possa significar «africano e americano»).
Sobre este tipo de palavras, não há preceitos claros para a grafia das chamadas formas reduzidas dos adjetivos pátrios quando estas aludem a questões de ascendência e genealogia. A tendência é geralmente tratar as formas reduzidas (p. ex., luso-) como elementos prefixais sujeitos às regras de hifenização respetivas (ver Base XVI do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990). Os vocábulos assim constituídos devem, portanto, escrever-se sem hífen, cada qual configurado como uma única palavra gráfica.
Neste contexto, poderia até sugerir-se que afro-americano, com hífen, seria a grafia mais adequada para o adjetivo relacional composto parafraseável por «africano e americano», enquanto afroamericano corresponderia ao adjetivo que significa «relativo aos americanos de ascendência africana». Contudo, não é isto que se verifica, pois a consulta de alguns dicionários revela que a forma hifenizada afro-americano tem dupla aceção (ver Infopédia e Dicionário Houaiss): por um lado, figura como adjetivo aplicável a quem ou ao que está relacionado simultaneamente com a Africa e à América; por outro, tem a aceção de «americano de ascendência africana».
Em conclusão, casos como os de ítalo-brasileiro, franco-italiano e ítalo-francês revelam que a ordem dos constituintes é relevante quando se pretende identificar a ascendência. O primeiro constituinte indica origem ou herança étnica e cultural, enquanto o segundo remete para a cidadania ou naturalidade.