DÚVIDAS

Hífenes: «guarda-roupa-cápsula»

A ortografia portuguesa contempla a possibilidade de que se sucedam mais do que um prefixo hifenizado em palavras compostas sem elementos de ligação (p. ex. vice-diretor-executivo ou ex-vice-diretor-executivo).

Não obstante (e por nunca me ter deparado com um caso desta natureza), ter-se-ia também de hifenizar a junção de uma unidade lexical autónoma (um nome) a uma palavra composta (sem elemento de ligação)?

Por exemplo, temos coleção-cápsula (uma pequena coleção especial de vestuário dentro da coleção mais geral da loja) e, consequentemente, teríamos “guarda-roupa-cápsula” ou “guarda-roupa cápsula” (esta última, talvez, porque poderia tornar mais claro que cápsula modifica restritivamente a unidade completa guarda-roupa” e evitaria outras possibilidades de relações de modificação entre os seus elementos?!)?

Agradeço, desde já, a vossa resposta!

Resposta

Não parece haver uma resposta inequívoca à questão.

O caso apresentado é muito especial e envolve nomes usados como se fossem adjetivos modificadores, como é o caso de mãe em casa-mãe, ou base em ideia-base. Nestes casos, os normativos ortográficos do português não têm sido claros, mas atendendo à prática de hifenização destes usos (ver mãe e base no Dicionário Houaiss, que os classifica como «determinantes específicos»), infere-se que, em associação a um nome composto hifenizado, se junte mais um hífen com esse tipo de palavras. Assim, escrever-se-á guarda-roupa-cápsula.

Como foi dito, trata-se, porém, de uma área menos vigiada pelos preceitos ortográficos, com margem para certa variação, até porque cápsula não parece ter o mesmo uso corrente que as formas hifenizadas de mãe e base.

 

N. E. (01/06/2022) – O uso acima comentado é uma transposição do inglês capsule em expressões «capsule wardrobe», traduzível por «guarda-roupa essencial». Neste contexto, o inglês capsule é referido a um conjunto de peças de roupa consideradas essenciais. É uma importação que não parece figurar nos dicionários de português e cuja adoção (discutível) não corresponderá a uma verdadeira necessidade, visto expressões como «roupa essencial» e «guarda-roupa essencial», entre outras construções vernáculas possíveis, terem o mesmo significado e a mesma capacidade referencial.



 

 

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