A sua pergunta envolve três questões diferentes: por um lado, os fatores que condicionam o uso do conjuntivo, por oposição ao indicativo; por outro, os valores associados ao conjuntivo quando ocorre em orações relativas e a diferença de interpretação entre presente e futuro do conjuntivo.
O conjuntivo
Enquanto o modo indicativo ocorre em frases em que o falante acredita na verdade das situações descritas nessas frases (associado, portanto, a valores de modalidade epistémica positiva – ou crença positiva), o modo conjuntivo ocorre, principalmente, em frases que descrevem situações hipotéticas – que podem vir ou não a ocorrer, que podiam ter ocorrido, mas não ocorreram, etc.
Assim, ao proferir a frase 1, o falante expressa que acredita que a situação descrita na frase se vai realizar, ao contrário do que acontece na frase 2, em que o falante expressa que a situação descrita é apenas hipotética (valor desencadeado pelo advérbio talvez):
1 – «Amanhã, o Afonso vem jantar connosco.»
2 – «Amanhã, talvez o Afonso venha jantar connosco.»
As relativas
A frase com os verbos no conjuntivo que nos apresenta pertence à classe das orações relativas: «quem tiver tempo livre e queira fazer trabalho voluntário».
Neste caso, a diferença entre o valor de crença positiva (com o indicativo) e o valor hipotético (com o conjuntivo) não incide sobre a situação, mas, sim, sobre a existência de entidades a que se aplique a situação descrita na oração relativa:
3 – «Quem tem tempo livre e quer fazer trabalho voluntário pode consultar este site.»
Nesta frase, o falante sabe que existem pessoas que têm tempo livre e que querem, simultaneamente, fazer trabalho voluntário. O sujeito, em que se integra a oração relativa, tem aqui um valor específico.
4 – «Quem tiver tempo livre e quiser fazer trabalho voluntário pode consultar este site.»
Usando o conjuntivo, o falante acredita que existam pessoas com essas características, mas não assegura que, de facto, existam (trata-se apenas de uma hipótese que o falante considera muito provável). Neste caso, o sujeito tem um valor não específico.
A diferença de interpretação entre presente e futuro do conjuntivo é muito subtil, e a utilização de um ou outro tem mais que ver com a presença de determinadas conjunções: quando, sempre que, se, por exemplo, são conjunções que selecionam futuro do conjuntivo, enquanto caso, embora, ainda que, entre outras, selecionam o presente (embora os dois tipos aceitem o pretérito imperfeito do conjuntivo).
No tipo de frase que nos apresenta, uma oração relativa sem antecedente expresso (ou relativa livre), em que a construção tem um valor universal (com o significado «todas as pessoas que tiverem tempo livre e queiram fazer trabalho voluntário»), o uso do futuro do conjuntivo é o mais adequado, apesar de haver pessoas que aceitam também o uso do presente do conjuntivo. Ou seja, a frase mais adequada será:
5 – «Quem tiver tempo livre e quiser fazer trabalho voluntário pode consultar este site.»
Para quem aceita os dois tempos, a diferença incide naquilo em que o falante acredita no momento da enunciação:
(i) Com o verbo no futuro do conjuntivo, o falante formula uma hipótese mais abrangente no tempo: acredita que haja ou venha a haver pessoas com aquelas características (isto é, podem não existir no momento em que ele produz a frase, mas acredita que venham a existir).
(ii) Ao usar o verbo no presente do conjuntivo, o falante assume que, no momento em que produz a frase, já existam pessoas que tenham tempo livre e queiram fazer trabalho voluntário.
Por se tratar de uma diferença muito subtil – já que a interpretação do futuro do conjuntivo inclui a interpretação que se obtém com o presente –, quem aceita a utilização dos dois tempos usa-os aleatoriamente, muitas vezes sem consciência desta diferença.
Leituras aconselhadas:
Rui Marques, 2013, «Modo», in Eduardo Paiva Raposo et al. (orgs.), Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, cap. 19, 671-693.
Rui Marques, 2010, «Sobre a semântica dos tempos do conjuntivo», XXV Encontro da Portuguesa de Linguística. Textos Seleccionados, APL, pp. 549-565. (anexo 2 – "Sobre a semântica dos tempos do conjuntivo").