DÚVIDAS

Futuro e presente do conjuntivo depois de quando

Em português é comum o uso do futuro de conjuntivo em orações de relativo. No entanto, tenho reparado no facto de haver também orações de relativo com presente de conjuntivo. Esta construção, normal em castelhano, é correta em português? Por exemplo, os pares de orações que se seguem estão todos corretos? Há alguma diferença de significado entre elas?

«Quem estudar hoje, não chumba.»/«Quem estude hoje, não chumba.»

«Os carros que estiverem na rua podem ser revogados.»/«Os carros que estejam na rua podem ser revogados.»

«Irei buscar-te onde estiveres.»/«Irei buscar-te onde estejas.»

Por último, esta frase de Almeida Garrett – «E quando venha a morte, será morrer por ti» – poderia ser «E quando vier a morte, será morrer por ti»?

Muito obrigado.

Resposta

É possível usar o presente do conjuntivo nas orações subordinadas adjetivas relativas e nas adverbiais temporais, mas o valor semântico associado é um pouco diferente do associado ao futuro do conjuntivo.

Assim:

1. «Quem estude hoje, não chumba

A frase 1 tem mais valor presente ou genérico do que propriamente futuro.

2. «Os carros que estejam na rua podem ser rebocados.»

3. «Irei buscar-te onde estejas.»

O valor de presente fica salientado em 2 e 3.

Assinale-se que se trata de ocorrências especiais do presente do conjuntivo, como, aliás, aponta Paul Teyssier, quando se refere a esta possibilidade no Manual de Língua Portuguesa (Coimbra Editora, 1989, p. 284):

«As subordinadas [...] [temporais e relativas] podem admitir igualmente o presente do conjuntivo, p. ex.:

Eu vou para Coimbra logo que esteja bom. [...]

Podia ter-se dito igualmente "logo que estiver bom". Se alguma diferença de sentido existe entre os dois tempos, é a seguinte:

– O conj. pres. exprime uma eventualidade pura e simples.

– O conj. futuro exprime uma eventualidade nitidamente situada no futuro.

Na prática, o futuro do conjuntivo é muito mais frequente que o presente em enunciados deste tipo.»

Quanto ao uso que se atesta em Garrett, é preciso ter em conta que se trata de um autor da primeira metade do século XIX, o que pode significar que o uso do futuro do conjuntivo não seria tão sistemático nessa época.

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