Por enquanto, não existe um sistema de transliteração do alfabeto cirílico para o alfabeto português que seja aceite universalmente entre falantes de língua portuguesa. Há várias propostas – entre elas, a da Folha de S. Paulo1 –, e até se emprega a norma internacional ISO 92.
Mesmo assim, embora a adaptação proposta pelo consulente seja possível, em princípio, ainda não encontra ela a força necessária para se consagrar, porque o nome que representa não tem tradição ou grande circulação no português oral e escrito. É verdade que, com -ã final, em lugar de -an, se regista Astracã e que o elemento -stan tem o aportuguesamento (i)stão: Cazaquistão, Usbequistão. Contudo, trata-se de formas que, por razões históricas, foram sendo alteradas por um uso mais frequente ou mais presente em certas práticas discursivas, como sejam, as do jornalismo, as das relações diplomáticas e as da divulgação historiográfica.
Respondendo às perguntas:
– Um aportuguesamento pode ser criado de propósito, de forma planeada, para um registo dicionarístico, mas é corrente este concretizar-se já depois da criação de tal forma, muitas vezes sem se poder atribuir a falantes identificados.
– Quanto a escrever "Euromaidã", trata-se de forma possível, de acordo com o modelo de Amã, adaptação da romanização Aman, nome da capital jordana. Mesmo assim, como é forma pouco ou nada empregada (mas, repita-se, possível), uma opção prudente e correta será empregar também a forma romanizada Euromaidan, sem acento3, ou, em alternativa, a tradução Europraça.
1 Foi consultada uma versão em linha da edição de 1996 do Manual de Redação da Folha de S. Paulo. Não foi possível o acesso à 5.ª versão (2018) desta obra.
2 Sobre esta questão, consulte-se o muito útil artigo "Contributo para a transliteração do russo para o português", de Ana Salgado e Nonna Pinto, no Pórtico da Língua Portuguesa (22/11/2017). Leia-se também o se diz sobre o nome Sochi no artigo "СОЧИ – um estudo de caso da transliteração do russo", de Paulo Correia (A Folha – Boletim da Língua Portuguesa nas Instituições Europeias, n.º 44. primavera de 2014, pp. 13-17).
3 Dispensa o itálico, visto tratar-se de um nome próprio, apesar de estrangeiro. Escreva-se, portanto, em redondo como acontece com outros topónimos estrangeiros que se usam sem aportuguesamento: Taiwan, Wuhan, Évian.