Fica aqui expressa a opinião do consulente, que respeito. No entanto, farei três considerações:
1.ª Se aceitamos a forma Taiwan, com o argumento de que este é o nome do país em apreço na língua que aí tem estatuto oficial ou maioritário, então teremos também de aceitar Zhōngguó como nome da República Popular da China, porque é assim que este país se chama em mandarim. Ou para apenas fazer referência ao espaço da União Europeia, teríamos de aceitar igualmente Deutschland, para não dizer Alemanha, Magyarország, em lugar de Hungria, Suomi em vez de Finlândia, ou Elláda, a substituir Grécia. Não estou a dizer que não se possa usar Taiwan; só quero mostrar que é frequente que um país seja conhecido por nomes diferentes em línguas diferentes.
2.ª O nome Formosa surgiu realmente na época de ouro do Império Português, na primeira metade do século XVI (ver Textos Relacionados). Usar a palavra Formosa pode ser quinhentismo ou colonialismo serôdios, mas, nessa perspectiva, receio que empregar Alemanha (palavra atestada desde o século XIII) possa ser medievalismo ultrapassado, e que a palavra Grécia reflicta a arrogância dos conquistadores romanos, que preferiram ignorar a forma helénica. E será que pronunciar Egipto é sinal de eurocentrismo, uma vez que, em árabe, tal país se chama Miṣr? A resposta pode ser afirmativa, se atendermos a que cada palavra tem a sua história e transporta uma carga ideológica. Mas teremos a obrigação de rejeitar a história das palavras que se fixaram na língua materna? Acho que não, porque tropeçamos constantemente em palavras e expressões que evocam momentos bons e maus da história de uma comunidade de falantes. Procedermos constantemente ao apagamento das palavras "más" pode revelar-se uma actividade neurótica conducente ao silêncio e ao estiolamento linguístico e intelectual (daí talvez a dimensão patológica de certas estratégias de eliminação lexical na vida das instituições).
3.ª Julgo que o recurso à forma Taiwan, em lugar de Formosa, se enquadra numa tendência mais geral, de rejeição de nomes criados ou impostos pelas línguas dos grandes impérios coloniais. A par deste, o caso de Bombaim/Bombay/Mumbai é ilustrativo deste comportamento, porque se crê que o uso do nome indígena equivale a erradicar um passado de submissão. Este desejo é levado mais longe, quando se pretende impor essa denominação nas línguas dos antigos invasores. Ora, neste nível, parece-me que a situação já não depende de quem fale cantonês em Taiwan/na Formosa e marata em Bombay/Mumbai. Depende é sobretudo dos falantes dessas línguas coloniais e das modas e políticas que entre eles prevalecerem. Em português, continuaremos a usar as palavras China, Alemanha, Hungria, Finlândia, Grécia e Egipto, porque os nomes nas línguas oficiais destes países são pouco ou nada conhecidos entre falantes de português. Quanto a Taiwan/Formosa, reconheça-se que a forma tradicional Formosa está a ter a concorrência de Taiwan, por uma série de condicionalismos históricos.
Penso ter mostrado que há bons argumentos para defender a continuação do uso de Formosa, mas se um consulente continuar a gostar mais de Taiwan ou encontrar aqui uma causa defensável, não terei a veleidade de lhe coarctar essa liberdade. Só lhe peço é que pondere um pouco sobre o que acabei de expor.