A questão que coloca é muito interessante do ponto de vista sintático-semântico e envolve vários planos de análise.
Antes de mais importa esclarecer que, embora na tradição gramatical as orações explicativas sejam integradas na coordenação frásica, elas não são verdadeiramente estruturas coordenadas, pois compartilham algumas características tanto com as orações subordinadas como com as coordenadas.1 Por essa razão, alguns autores propõem a sua integração na classe das construções paratáticas, sendo consideradas um caso de suplementação.2
A frase apresentada pelo consulente deve ser analisada considerando vários níveis de constituintes. Ao nível da frase, ocorre uma relação de parataxe entre duas estruturas, como se ilustra pelos parênteses retos em (1), que evidenciam que uma oração complexa, «assim vais plasmar tua integridade e a virtude será teu brasão», se conecta com um valor semântico de explicação à oração anterior:
(1) «[Anda por retos caminhos], [que assim vais plasmar tua integridade e a virtude será teu brasão].»
Ou seja, é toda a oração complexa, introduzida por que, que assume o valor explicativo. Neste caso particular, no plano semântico, ela assume a função de justificar a ordem ou conselho presente em «Anda por caminhos retos».
No interior desta oração complexa, identificamos outro nível de análise, que evidencia a presença de outros constituintes, tal como ilustrado pelos parenteses retos em (2):
(2) «[que [[assim vais plasmar tua integridade] e [a virtude será teu brasão]]].»
Esta divisão mostra que a oração complexa é composta por duas orações coordenadas pela conjunção e.
Assim sendo, a oração «e a virtude será o teu brasão» é uma coordenada copulativa, que funciona no interior de uma oração explicativa, o que significa que, individualmente, ela não se coordena superiormente com a oração «Anda por caminhos retos». Refira-se, ainda, que a conjunção e pode estar a ser usada com um valor consequencial (equivalente a consequentemente)3.
Refira-se, ainda, que a oração apresentada poderia ter outra sintaxe, tal como se apresenta em (3):
(3) «?Anda por retos caminhos, que assim vais plasmar tua integridade e que a virtude será teu brasão.»
Esta será uma construção pouco aceitável para alguns falantes, mas eventualmente possível num contexto informal4. A sua análise será um pouco distinta da da frase original, como se evidencia em (4):
(4) «[Anda por retos caminhos], [[que assim vais plasmar tua integridade] e [que a virtude será teu brasão]].»
Neste caso, que (o primeiro que) não introduz toda a oração complexa. Estamos, antes, perante duas orações explicativas que se coordenam para formar uma oração explicativa complexa. Podemos ainda considerar que a segunda oração, «que a virtude será teu brasão», se articula, por um lado, com «Anda por caminhos retos», como oração explicativa, e, por outro, com a oração «que assim vais plasmar tua integridade» como coordenada copulativa.
Disponha sempre!
?marca a aceitabilidade duvidosa da construção.
1. Para maior desenvolvimento, cf. Matos e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1814-1816.
2. Idem, ib., em particular p. 1816 e Mendes in Ibidem, pp. 1732 – 1733.
3. Esta possibilidade é referida por Cunha e Cintra in Nova Gramática do Português Contemporâneo. Ed. Sá da Costa, p. 579.
4. Note-se que se a oração fosse introduzida por pois, esta coordenação de orações explicativas já não seria aceitável: «*Anda por caminhos retos, pois assim vais plasmar tua integridade e pois a virtude será teu brasão.» (* assinala a não aceitabilidade da frase)