Na leitura da expressão de medida em causa, deve dizer «dois gramas por litro», concordando a palavra grama com o quantificador dois, já que, do ponto de vista linguístico, grama é um substantivo que, além de singular, tem também plural marcado morfologicamente. É, portanto, incorrecto o uso da expressão de medida no singular, porque o quantificador numeral que a especifica, dois, indica que se trata de um plural.
Este erro é comentado por João Andrade Peres e Telmo Móia, em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 1995), num capítulo sobre a conversão para português de expressões de medida (págs. 512-517), cujo ponto de partida é um texto de C. M. M. da Silva Corrêa, professor catedrático de Química da Universidade do Porto. O Professor Silva Corrêa condena o facto de alguns professores de Ciências Físico-Químicas dos ensino básico e secundário só empregarem o singular da palavra referente à unidade de medida (citado por Peres e Móia, op.cit., pág. 512):
«Desde há alguns anos que, aqui e ali, pontualmente, alguns colegas do ensino secundário defendiam a teoria de que se devia dizer "dois litro" em vez de "dois litros", "duas mole" em vez de "duas moles" e assim sucessivamente. A justificação que davam para o insólito facto era a de que "dois litro" significava "duas vezes a unidade litro”...»
Silva Corrêa interpreta este desvio linguístico como um «mistura incrível entre nomenclatura e língua portuguesa», «resulta[nate] do facto de os símbolos das unidades não serem escritos no plural (2 cm e não 2 cms, como é por todos conhecidos)» (citado por Peres e Móia, op.cit., pág. 512).
Peres e Móia corroboram este diagnóstico, ao considerarem que o uso do singular em contextos como o que aqui se discute é «dislate[s] linguístico[s] sem qualquer sentido, que só serve para dificultar o desenvolvimento de uma boa relação dos jovens portugueses com a sua língua materna». Esta posição é justificada pelo facto de a leitura de expressões das linguagens artificiais usadas em matemática, química, lógica simbólica, etc. envolver uma tradução para uma língua natural, de acordo com as regras que aí forem válidas. Sendo assim, a expressão «2 g/l» só poderá ser lida em português como «dois gramas por litro», porque a palavra grama tem de observar a regra sintáctica segundo a qual «os traços de número de um nome (modificado ou não) e do quantificador que sobre ele opera directamente são idênticos» (idem, pág. 516). No caso vertente, dois é plural; então, o substantivo associado, grama, tem também de estar no plural: «dois gramas».