1. Nota inicial: O Comité Internacional de Pesos e Medidas (CIPM) não indica nenhuma abreviatura para milha. Há discrepâncias quanto à sua representação. A Academia Brasileira de Letras (ABL) recomenda mi, o VOLP da Porto Editora e a Wikipédia recomendam M. Sigo a ABL.
2. Segundo o Bureau International des Poids et Mesures (BIPM), o nome de uma unidade (extenso) só passa a plural a partir de dois (inclusive). Exemplo no livro de Guilherme de Almeida; 1,99 joule. Logo, deve escrever-se 1,2 milha.
3. Mas uma coisa é a representação do valor da grandeza em algarismos com a sua unidade por extenso, obedecendo à norma que se convencionou no BIPM; outra a descrição da grafia que se vê. Nessa descrição, atende-se a que devemos ser exatos naquilo que se indica. Descrevendo 1,2 milha, devemos dizer uma milha mais duas décimas de milha ou uma milha, vírgula, duas milhas decimais, ou, ainda, citando os algarismos, “um, vírgula, dois” de milha. Assim, segundo as normas, é incorreto escrever-se simplesmente: *uma milha, vírgula, duas milhas. A concordância gramatical (numeral e unidade: “duas milhas”) implica ambiguidade entre milhas inteiras e decimais e contraria o BIPM.
4. Repare-se agora no exemplo de 1,2 Km, que me foi sugerido para estudo pelo jornalista José Mário Costa. Temos os numerais descritos com as suas designações habituais: “um, dois”. Então, os hábitos linguísticos, na fluência natural, levam-nos à concordância gramatical da unidade com o numeral que a antecede: um vírgula dois quilómetros. A regra torna-se mesmo rebarbativa ao ouvido, nas nossas ligações cerebrais linguísticas: “um vírgula dois quilómetro”. Resumindo, como já escrevi várias vezes em Ciberdúvidas: Se a mensagem é perfeitamente transmitida mesmo teoricamente com alguma ambiguidade, e não se tratando de um erro grosseiro, as regras existem para os falantes se entenderem e não estes para as regras.
Ao seu dispor,