A consulente utiliza o termo dialeto (grafia brasileira) na acepção de variação linguística em geral. Ora, dialecto designa apenas cada uma das subdivisões que se podem aplicar a uma determinada língua, consoante a região ou a camada social a que pertencem os falantes.
Assim, a respeito das variações linguísticas relacionadas com factores geográficos, podemos referir que em Portugal se considera como norma o conjunto de usos linguísticos das classes cultas da região de Coimbra-Lisboa (hoje seguida pela generalidade dos falantes escolarizados), definindo-se três grupos de dialectos (os setentrionais, os centro-meridionais e os insulares) e que no Brasil, segundo Antenor Nascentes, há a considerar uma divisão dialectal entre o Norte (os subdialectos amazónico e nordestino) e o Sul (o baiano, o fluminense, o mineiro e o sulista).
Podemos ainda referir as variações linguísticas dos falantes de português dos novos países de língua oficial portuguesa, os pidgins e os crioulos de base portuguesa.
Quanto às variações de natureza social, temos não só os regionalismos (variações diatópicas), como as variações diastráticas, ou seja, as relacionadas com a classe social, profissional ou cultural dos falantes: um indivíduo com estudos superiores utiliza a língua de forma diferente da de um analfabeto. Alguns linguistas chamam sociolecto à variedade linguística partilhada por um grupo social que permite demarcá-lo de outros, como, por exemplo, as gírias.
Além disso, se considerarmos as pessoas de um sexo ou de uma determinada idade como um grupo com particularidades socioculturais, poderemos dizer que a variação que decorre dessas diferenças é uma variação diastrática.
Por outro lado, as pessoas de determinada idade (as pessoas da mesma geração), porque viveram os mesmos acontecimentos, tiveram e têm interesses semelhantes, contactaram com as mesmas realidades, utilizam a língua de uma forma semelhante: pronunciam uma palavra de uma determinada maneira, usam com mais frequência uma ou outra construção frásica, um ou outro vocábulo. De geração para geração, nota-se que a utilização da língua tem as suas particularidades. Esta variação linguística consoante a idade das pessoas é de natureza diacrónica. Também o estudo da evolução da língua através dos tempos, através da História de um país, é um estudo diacrónico.
Finalmente, a função. Se a língua é utilizada de forma diferente pelo mesmo falante consoante a função ou papel que está a desempenhar, estamos perante uma variação diafásica: na sala de aula, um professor utiliza um registo de língua diferente do que utiliza em casa com os filhos ou num jogo de futebol com os amigos. A sua função de professor, pai ou amigo condiciona-lhe o registo linguístico. Há ainda a considerar o tecnolecto, ou seja, a terminologia própria, técnica, rigorosa, de uma determinada área do saber (as ciências, a medicina, a biologia, as artes, etc.). A função que um indivíduo desempenha, profissionalmente falando, exige-lhe o domínio de um tecnolecto.
Para aprofundar os seus conhecimentos a respeito de variação linguística, poderá consultar a obra de Isabel Hub Faria et alii, Introdução à Linguística Geral e Portuguesa.