A identificação da função sintática dos constituintes apresentados pela consulente exige, em primeiro lugar, que se identifique a natureza da palavra a que eles se associam: trata-se de um particípio passivo ou de um adjetivo?
Em algumas construções, a distinção entre particípios e adjetivos constitui uma área sensível que motiva posições não consensuais. A discussão gerada neste domínio dos estudos linguísticos prende-se com o facto de as palavras em análise, adjetivos ou particípios, evidenciarem características de ambas as classes, o que vem dificultar a sua classificação.
Ciente da polémica existente nesta área, deixo aqui alguns critérios suscetíveis de clarificar a distinção pretendida:
(i) para todas as expressões apresentadas é possível identificar uma frase ativa equivalente (aqui simplificada para facilitar a análise):
(1) «Uma frase silenciosa acompanhou-me.»
(2) «Pessoa fez uma cronologia.»
(3) «A angústia dilacerou os sujeitos.»
(4) «A ausência domina o universo poético.»
(ii) o constituinte que acompanha as formas participais é um agente da passiva, na medida em que corresponde ao sujeito do verbo numa frase ativa e é introduzido pela preposição por na forma passiva;
(iii) uma das características do adjetivo formado a partir de um particípio é o facto de não ter um sentido de evento, ou seja, de uma situação que se desenrolou; porém, nas frases apresentadas, a ideia de evento parece estar associada às palavras em questão (acompanhado, feita, dilacerados, dominado);
(iv) quando são adjetivos, estas formas expressam um sentido que se afasta de uma noção temporal, típica dos verbos e, por isso, podem fazer-se acompanhar de constituintes introduzidos por outras preposições:
(5) «Ele é muito acompanhado em casa.»
(6) «A casa é feita de madeira.»
(7) «Ficou com o coração dilacerado em mil pedaços.»
(8) «Aquele era um país já dominado na área cultural.»
Nestas frases, a palavra destacada tem um sentido um pouco diferente daquele que teria se fosse utilizada como particípio passivo. Esta autonomia é própria dos adjetivos.
Como as frases apresentadas não parecem obedecer aos aspetos assinalados anteriormente, julgo que estamos perante construções participais passivas que desempenham a função ou de modificador do verbo em (9):
(9) «Cresci acompanhado por uma frase silenciosa.»
ou de modificador do nome em (10), (11) e (12):
(10) «Segundo a cronologia feita por Pessoa, Alberto Caeiro nasceu em 16 de abril de 1889, em Lisboa.»
(11) «A poesia de Pessoa mostra-nos sujeitos dilacerados pela angústia de se sentirem conscientes da sua consciência.»
(12) «A poesia de Caeiro anula o núcleo metafísico do universo poético pessoano, obsessivamente dominado pela ausência de sentido que vê em tudo.»
Para concluir, e respondendo à questão colocada, sendo a palavra nuclear destas construções um particípio passivo, os constituintes que o acompanham desempenham a função de agente da passiva.
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