Na verdade, não estamos perante uma contradição, mas antes perante diferentes traços caracterizadores do processo de coesão lexical e diferentes formas de organizar os processos coesivos. Assim, a coesão lexical pode processar-se ora por reiteração/repetição, como em (1), ora por substituição, como em (2):
(1) «Os rapazes chegaram a casa. Os rapazes foram lanchar.»
(2) «Os rapazes chegaram a casa. Os jovens foram lanchar.»
A reiteração / repetição consiste na retoma do nome antecedente. Este fenómeno designa-se anáfora fiel1, como acontece em (1). A substituição assenta, geralmente, em processos de hiperonímia ou de sinonímia, como acontece em (2) onde a relação anafórica assenta no processo de sinonímia entre rapazes e jovens. Este processo é conhecido como anáfora infiel1. Algumas propostas gramaticais consideram a reiteração como um processo que inclui tanto a repetição como a substituição2.
A contiguidade ou colocação é outro fenómeno da coesão lexical que se processa através de itens lexicais que não se relacionam por processos de reiteração. Neste caso, estamos perante palavras que estabelecem laços de sentido num mesmo texto sem que uma reative o sentido de outra. Neste caso, a relação entre as palavras/ expressões assenta num elo semântico que as liga, como acontece em (3):
(3) «A escola tinha começado e o estudo era necessário. Todos os alunos teriam de trazer os compêndios para o início das aulas.»
Na frase (3), os sintagmas «a escola», «o estudo», «os alunos», «os compêndios» e «[d]as aulas» estabelecem uma relação semântica entre eles, não sendo propriamente usados para reiterar uma realidade já apresentada anteriormente. No entanto, a sua colocação no texto dá-lhes força coesiva. Por esta razão, se define a coesão por contiguidade/colocação como aquela que recorre a termos pertencentes ao mesmo campo semântico.
Disponha sempre!
1. Cf. Cf. Lobo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 2183.
2. Cf., por exemplo, Halliday, M. A. K.. System and function in language. Londres, Oxford University Press, 1976.