O verbo principal é, por princípio, um só. Pode ocorrer simples, ou em locução, associado, neste caso, a um auxiliar, podendo haver diversos níveis de complexidade nas locuções. Vejamos as frases uma a uma:
1. «Os débitos devem ser corrigidos.»
1.1. «Eles devem fazer o trabalho hoje.»
Nesta frase temos dois auxiliares distintos. Um auxiliar de passiva, o verbo ser, que se associa directamente ao verbo principal, que está no particípio passado (como é comum na passiva). Por sua vez, esta passiva está sujeita a uma modalização aspectual de obrigatoriedade ou de possibilidade (o que só se esclareceria num contexto alargado que a frase, tal como está, não permite).
É esta sujeição, digamos assim, que justifica o infinitivo do auxiliar da passiva, uma vez que está incluído na construção exigida pelo verbo modalizador devem. Ou seja, a carga da concordância ocorre no primeiro auxiliar: o auxiliar aspectual devem. Neste contexto, o verbo dever é seguido por preposição e por um verbo no infinitivo, ser. Repare-se em 1.1, em que o verbo principal está na voz activa. Por sua vez, o verbo ser, apassivante, condiciona o modo do verbo principal, implicando que esteja no particípio passado. Na análise, temos, pois, dois níveis, que nos permitem a análise de dois verbos de cada vez: «devem ser», possibilidade ou obrigatoriedade, e «ser corrigidos», passiva.
2. «Os compromissos não podem deixar de ser cumpridos.»
2.2. «Eles não podem fazer o trabalho hoje.»
Na frase 2, acresce um novo nível de análise associado ao verbo modalizador de possibilidade poder. É também este, por ser o primeiro a ocorrer, que carrega as marcas de concordância. Enquanto na frase 1 temos dois níveis de análise, na frase 2 temos três: «(não) podem deixar», possibilidade; «deixar de ser», obrigatoriedade; «ser cumpridos», passiva. Note-se que o verbo dever, dado o contexto em que surge, adquire, claramente, um valor de obrigatoriedade.
Tanto em 1 como em 2 o verbo principal é cumprir.