A mesma pronúncia (homofonia) das terminações -géneo e -génio e até a sua afinidade etimológica têm levado a certa arbitrariedade no seu uso, que, por enquanto, os vocabulários ortográficos e os dicionários não esclarecem.
Assim, seria de esperar que na Infopédia se escrevesse calcogéneo, tal como se grafa halogéneo, que é forma com registo já antigo1. Não é o que acontece, e, portanto, a conclusão que se tira da consulta de vários dicionários (portugueses e brasileiros)2 é que as duas terminações – -géneo e -génio –, são aceitáveis.
É certo que o Dicionário Houaiss (DH) define critérios para os usos de um e outro elemento:
«[-gêneo é] pospositivo, depreendido do grego homogenês, és 'da mesma raça, semelhante', pela forma assumida no latim eclesiástica homogeneus; já em 1813 está documentada essa palavra em português, passando, a partir dos fins do século XIX, a ser sua terminação contraposta a -gênio, ambas praticamente homofônicas; a distinção gráfica, aos poucos consolidada, postula em -gênio substantivos (raro adjetiváveis), enquanto em -gêneo postula adjetivos (às vezes substantivados): acridogêneo, digêneo, electrogêneo, fitogêneo, halogêneo, heterogêneo, histogêneo, homogêneo, lacrimogêneo, paleogêneo, pirogêneo, pterigogêneo [...].»
«[-gênio é] pospositivo, conexo com -genia [...] e a noção de 'nascimento, origem, descendência, raça', em compostos do século XIX em diante; a relação é de todo estreita com os compostos em –geno [...], que, transmitidos por via do grego ou do latim, geravam proparoxítonos puros em -ógeno ou -ígeno, respectivamente, como se pode ver na série exemplificada em -geno; de início, essa série proparoxítona deve ter sido mal recebida para usos populares, de tal modo que um vocábulo como o francês oxigène teria gerado dúvida no aportuguesamento ou espanholizamento – do que dá prova a solução portuguesa oxigênio e o espanhol oxígeno (mais conforme com o étimo); essa repulsa ao proparoxítono, algo evidente em outros compostos, podia ter uma solução dentro da própria série – em particular no latim, segundo o padrão primigĕnus, a, um 'primígeno' e primigenĭus, a, 'primigênio', praticamente sinônimos; o desenvolvimento da alternativa em -gênio não é excludente, porque forma substantivos (raramente ou nunca adjetiváveis); compare-se o exemplário a seguir com os correlatos da série de -geno: alergênio, anfigênio, cianogênio, colagênio, dermatogênio, felogênio, fibrinogênio, fosfogênio, fosgênio, gasogênio, glicogênio, halogênio, hidrogênio, monogênio, nitrogênio, ortoidrogênio, oxigênio, paracianogênio, paraidrogênio, pirogênio, primigênio, tripsinogênio, urobilinogênio, zimogênio, zoogênio [...]
Na primeira citação, é de realçar que o lexicógrafo do DH considera que os substantivos exibem -génio e os adjetivos, -géneo, mas não rejeita a possibilidade de os substantivos passarem a adjetivos e os adjetivos, a substantivos. Na segunda citação, surge halogénio, registo que se depreende estar correto. Sendo assim, conclui-se que há oscilações na grafia, ora com e, ora com i, sobre as quais não existe doutrina normativa clara e que, portanto, se aceitam.
Em suma, halogéneo e calcogénio são formas corretas, compatíveis com as variantes halogénio e calcogéneo, respetivamente. Num trabalho científico em que tais palavras ocorram convém escrevê-las uniformemente, ou só com -géneo ou só com -génio.
1 Ver Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves.
2 Consultaram-se o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, o Priberam, a Infopédia e o Dicionário Houaiss.