1. - Não consta que o advérbio não exista como tal ou tal função sintáctica. O que ele pode é desempenhar esta ou aquela função sintáctica, como qualquer outra palavra. E assim, vemo-lo a constituir um sujeito ou um complemento directo nas seguintes frases, respectivamente:
(1) O teu não feriu a minha alma.
(2) Senti em mim o teu não.
2. - Como vemos, nenhuma gramática indica a função sintáctica de não, como também não indica a função sintáctica de pedra, mosca, etc., porque cada palavra tem uma ou outra função, conforme a frase em que se encontra.
3. - O «Dicionário Breve de Termos Literários» de Olegário Paz e António Moniz resume assim o que é o modalizador: «Termo linguístico que designa os recursos utilizados para a expressão subjectiva da posição do emissor ou modalização: adjectivos valorativos («óptimo», «incapaz»); verbos reiterativos («asseguro», «creio»); advérbios de dúvida («certamente», «talvez»).»
Aqui vão dois exemplos em que, pelo advérbio não, ficamos a perceber a posição do emissor:
(1) Mas ouve lá, tu ontem não foste a casa da Maria?
(2) - O Joaquim ainda está doente?
- Então não sabes que aquela doença dura semanas e semanas?
4. - Sintacticamente, o advérbio não não pode ser complemento circunstancial de negação pelo seguinte:
a) Normalmente, não completa a significação do elemento a que se liga.
b) A negação não é uma circunstância.
5. - É evidente que o termo «circunstancial» só se pode usar relativamente à palavra ou palavras e à oração que indiquem uma circunstância. É por isso que há as orações circunstanciais.
6. - O advérbio, sozinho, só o podemos classificar como advérbio de negação.
7. - Morfologicamente, o não podemo-lo classificar, conforme os casos, como advérbio, substantivo e partícula de realce.
8. - Na frase «Eles não fizeram o trabalho», o não é um advérbio de negação.