Pode classificar-se incrivelmente como advérbio de grau, pelo menos, no atual contexto escolar de Portugal.
Atendendo à sua quase sinonímia com muito em associação com adjetivos, na construção analítica do grau superlativo absoluto, tem cabimento a classificação de incrivelmente como advérbio de grau, conforme a definição do Dicionário Terminológico, recurso destinado a apoiar o estudo do funcionamento da língua nos ensinos básico e secundário de Portugal1. Exemplos:
(1) Ele tinha o cabelo muito crespo.
(2) Ele tinha o cabelo incrivelmente crespo.
Os exemplos (1) e (2) mostram que tanto muito como incrivelmente marcam o alto grau da propriedade denotada pelo adjetivo crespo.
Contudo, noutra perspetiva, incrivelmente é classificado como advérbio avaliativo de situação2, que ocorre quer como modificador de frase («Incrivelmente, o deputado não participou no debate»), quer como modificador do grupo adjetival, na construção do grau superlativo absoluto («o discurso foi incrivelmente longo» = «... muito longo»)3.
1 Numa perspetiva tradicional, aceitava-se que os advérbios em -mente, como é o caso de extremamente – como incrivelmente, também empregado na construção analítica do grau superlativo absoluto–, eram advérbios de modo, muito embora outros assim sufixados figurassem noutras subclasses – por exemplo, somente e unicamente, entre os advérbios de exclusão. Cf. J.M. Nunes de Figueiredo e A. Gomes Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto, 1976,pp.300/301.
2 Cf. Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian,2013. p.1660.
3 Cf. ibidem, p. 2162, onde se regista a frase «a assistência estava excecionalmente atenta». Esta exibe o advérbio excecionalmente como operador do grau superlativo absoluto, numa construção em que a ocorrência de incrivelmente também é adequada: «a assistência estava incrivelmente atenta».