As duas construções estão corretas, mas «ao pescoço», no sentido de «pendurado à volta do pescoço», pode ter uso mais frequente do que «no pescoço» em certos contextos.
No Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa, de Énio Ramalho, regista-se a locução «ao pescoço»:
«pescoço, ao: depois de ter as mãos cortadas, mandaram à cidade com um escrito ao pescoço. – Vieira, Cartas, Clássicos Sá da Costa, I, 28).»
A mesma obra inclui a expressão «pôr ao pescoço»:
«pôr ao pescoço: pôs um colar ao pescoço e mirou-se ao espelho (adornou o pescoço com, enrolou à volta do pescoço).»
Uma consulta da secção histórica do Corpus do Português, de Mark Davies, permite observar que a locução «ao pesçoço» é mais frequente depois de nome (214 ocorrências) do que «no pescoço» no mesmo contexto (148 ocorrências). Esta diferença pode não ser significativa porque pode decorrer do contexto sintático: com efeito, ocorrerá «ao pescoço» se o verbo for, por exemplo, atar («atar alguma coisa a outra»).
Mesmo assim, importa assinalar também que «trazer ao pescoço» conta mais exemplos (45) no referido corpus do que «trazer no pescoço» (2). Acrescente-se, em contrapartida, que, entre vários dicionários consultados1 , a maioria regista «(estar) com a corda no pescoço», o mesmo que «estar numa situação complicada», mas no Dicionário Priberam acolhe-se esta forma a par de «com a corda ao pescoço» e de «com a corda na garganta».
Poderá aqui propor-se que a escolha entre «ao pescoço» e «no pescoço» decorre de um contraste semântico-referencial, entre conceber a suspensão de algo na base do pescoço («ao pescoço») e considerar a localização de algo na superfície do pescoço («no pescoço»). Mas este critério funda-se numa diferença que pode não ser óbvia, e descabido não será aceitar que o emprego de «ao pescoço» se deve igualmente a um funcionamento fixo como locução (lexicalização), em variação livre com «no pescoço», de significado mais literal.
1 Ver o Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, o Dicionário Houaiss e o Michaelis – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.