As referências de base que José Mário Costa faz na sua resposta As dúvidas de um «sportinguista com status e stique» são sobre um texto que publiquei anteriormente à saída do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa. De facto, apareceram depois publicadas as soluções publicitadas que eu receava; aconteceu, até, que encontrei muitas outras que me desagradaram.
Tem sido neste espírito que venho dizendo que não consigo aceitar este dicionário como «uma obra de orientação idiomática no domínio lexical» (propósito declarado na Introdução).
No entanto, como também já escrevi, esta ideia é unicamente um aspecto do que penso hoje sobre o trabalho. Não costumo só apontar defeitos. Parece-me agora oportuno explicar melhor:
Depois de estudar pormenorizadamente a obra, acabei por encontrar méritos no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa.
• A orientação geral deste dicionário deve ser ponderada, com tolerância, também numa visão prospectiva sobre a língua.
• O dicionário teve a coragem de indicar a pronúncia das entradas, uma referência que faltava nas obras actuais sobre o léxico. É pena que se tenha restringido à pronúncia da capital, no hábito consagrado nestes casos.
• Tem inúmeras abonações, algumas respeitáveis, e muitos exemplos úteis para o utente da língua.
• É um dicionário que se inspirou na utilização contemporânea do idioma, o que exigiu uma considerável recolha e tratamento de dados actualizados. Num domínio onde pode haver dicionários que copiem uns pelos outros, com risco de anacronismos, esta preocupação foi altamente meritória. O assunto poderá parecer de somenos importância, mas, como exemplo de menor rigor na actualização de publicações, é oportuno referir que numa enciclopédia recentíssima, presentemente muito divulgada, encontrei, na entrada cifrão, referência ainda ao «sinal que no sistema monetário português representa os escudos»...
• O dicionário é uma lufada de ar fresco sobre muitos termos bem formados, até hoje condenados pelos tradicionalistas das línguas clássicas ou pelos protectores xenófobos da língua.
• De qualquer forma, trata-se de uma obra extensa, laboriosa, e é justo que seja respeitada também por isso.