A questão que nos coloca constitui uma área complexa no âmbito dos estudos gramaticais e, portanto, suscetível de interpretações diversas. Não sendo possível realizar neste espaço uma investigação que permita apresentar uma análise alargada, deixaremos aqui uma hipótese interpretativa que só uma abordagem mais aprofundada poderá confirmar.
Antes de mais, parece reunir consenso o facto de uma frase como (1) derivar da frase mais complexa que se apresenta em (2):
(1) «Que será do João?»
(2) «(O) que será feito do João?»
A frase (1) constrói-se com base na elipse do particípio feito1 e do artigo o.
A frase (2) aparenta ser uma frase passiva, que poderá encontrar um paralelo em construções como (3), na qual o verbo fazer é usado com o sentido de “transformar” (cf. Malaca Casteleiro (dir.), Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses), sendo a preposição de opcional:
(3) «Os membros fizeram (d)o João presidente.»
Nesta frase, o constituinte «do João» tem a função de complemento direto e «presidente» é predicativo do complemento direto.
A afirmação presente em (3) autoriza a interrogativa (4), na qual a informação pedida corresponde ao predicativo do complemento direto, que, semanticamente, constitui a informação relevante:
(4) «O que fizeram do João?» («Fizeram-no presidente.»)
Note-se que o mesmo tipo de interrogativa com a preposição de pode surgir noutras frases com predicativo do complemento direto, como fica patente em (5) e (6):
(5) «Tu achas o João simpático.»
(6) «O que achas do João?» («Acho-o simpático»)
A frase (3) corresponde à frase passiva (7):
(7) «O João foi feito presidente pelos membros.»
Por alguma razão que aqui não conseguimos descortinar, a mesma frase (3) poderá autorizar a interrogativa equivalente na forma passiva, na qual a interrogação continua a centrar-se no pedido de informação relacionado com a informação relevante da predicação:
(8) «O que foi feito do João?»
Esta estrutura interrogativa estará algo cristalizada em construções como «Que é/foi/será de x?», nas quais se verifica a elipse do particípio feito e do artigo o, como dissemos atrás.
Na sequência da análise desenvolvida, julgamos que o constituinte «do João» na frase (8) mantém a função de complemento direto, apesar da estranheza de ser introduzido pela preposição de.
Pela mesma ordem de razão, na frase apresentada pelo consulente, aqui em (9), o constituinte «dele» terá igualmente a função de complemento direto:
(9) «Que seria dele sem o apoio da mulher?
Reiteramos, não obstante, que aqui deixamos uma proposta de análise que carece de uma investigação mais aprofundada, sendo que este tipo de construção não é ajustado a um tratamento em contexto de ensino não universitário pelos problemas que coloca.
Disponha sempre!
1. Vários estudos comprovam que esta redução da frase por elipse tem lugar, pelo menos, já desde o século XV. A investigadora brasileira Odete Menon encontra a estrutura em textos de Sá de Miranda da segunda metade do século XV. Será também nesta elipse que se encontra a estrutura que levou à gramaticalização da expressão «cadê?». Cf. Cadê e variantes: gramaticalização em língua portuguesa