Não poderemos atribuir ao verbo ser o sentido de transitividade tal como fazemos nos verbos denominados verbos principais. O verbo ser pertence à classe dos verbos copulativos (ou predicativos¹). O que distingue os verbos principais dos verbos copulativos (ou predicativos) é a carga semântica: um verbo principal tem um significado intrínseco (responder, nascer, estudar, fugir,…), enquanto um verbo copulativo é um verbo desprovido de significado, por isso se denominam também verbos de ligação. «Os verbos copulativos podem ser semanticamente classificados em dois grandes grupos (i) os que são usados para atribuir uma propriedade ao sujeito ou para descrever um estado no qual este se encontra (ser, estar, andar, continuar, revelar-se e parecer); e (ii) os que são usados para descrever uma mudança de estado do sujeito (ficar e tornar-se).»²
O verbo ser pertence ao primeiro grupo e marca a atribuição ao sujeito de uma propriedade que o caracteriza enquanto individuo («O António é eletricista»).
A frase que o consulente apresenta apresenta uma construção marcada na língua que (i) recorre à construção ser + de e (ii) é uma interrogação direta ou indireta.
No Dicionário Houaiss da língua portuguesa, lê-se, a este propósito, o seguinte: «ser de 1. Acontecer com (usa-se em associação com que ou o que, especialmente em interrogações diretas e indiretas a respeito do destino ou paradeiro de algo ou alguém, ou de onde se encontra, em que situação está etc.; que é (ou foi, ou era ou será etc,) de <que é da caixa que estava aqui?> <está muito preocupada: não sabe o que será do irmão>.
¹ Na nomenclatura gramatical brasileira.
² in Gramática do português, cap. 30.2.4, Usos e valores dos verbos copulativos, vol. II, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, p.1304.