As duas análises apresentadas poderão ser justificáveis em função do contexto em que se pretende promover o estudo gramatical.
O verbo transformar pode ser considerado um verbo transitivo direto e indireto com o sentido de “tornar diferente do que era”. No quadro desta análise, o verbo terá dois argumentos: um complemento direto e um complemento oblíquo. Esta será, eventualmente, uma análise mais ajustada ao quadro do ensino do 3.º ciclo.
Não obstante, uma análise mais fina pode permitir considerar o verbo transformar entre os verbos transitivo-predicativos de tipo resultativo, os quais «denotam a criação de uma entidade (construir, elaborar, escrever, fazer) […] denotam eventos em que uma entidade sofre um determinado processo do qual sai transformada (cortar, mastigar)»1. Teremos verbos transitivo-predicativos nas seguintes frases:
(2) «Construí a casa pequena.» (= «Construí-a pequena.»)
(3) «Fiz o trabalho bonito.» (=«Fi-lo bonito.»)
(4) «Cortei o pão em fatias finas.» (=«Cortei-o em fatias pequenas.)
Esta análise implica que os constituintes pequena, bonito e «em fatias finas» desempenham a função de predicativo do complemento direto.
No âmbito deste quadro, o verbo transformar pode ser considerado transitivo-predicativo uma vez que, na frase apresentada, também denota um processo de transformação do príncipe em sapo:
(5) «Eu transformei o príncipe num sapo.»
De acordo com esta análise, o constituinte «num sapo» terá a função de predicativo do complemento direto.
Esta análise é mais ajustada ao campo de reflexão gramatical desenvolvida em contexto universitário.
Disponha sempre!
1. Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1355-1356.