Na frase apresentada, morador integra um constituinte alargado («morador na Rua das Acácias»), que desempenha a função de aposto/modificador apositivo do nome próprio Álvaro. Neste âmbito, a questão colocada, à partida, passa por identificar a natureza do constituinte que desempenha esta função sintática: trata-se de um sintagma nominal ou de um sintagma adjetival? Esta classificação dependerá da classe de pertença de morador, que, à partida, tanto poderá assumir o comportamento de um adjetivo como de um nome.
Relativamente a este aspeto, parece-nos que, na frase em questão, morador poderá ser classificado tanto enquanto nome como enquanto adjetivo. Por um lado, é compatível com o determinante artigo definido, assumindo, neste caso o comportamento de um nome
(1) «Álvaro, o morador na Rua das Acácias, foi assaltado ao sair de casa.»
Sendo o sintagma nominal, de acordo com esta interpretação, equivalente à oração relativa presente em (2):
(1) «Álvaro, o que mora na Rua das Acácias, foi assaltado ao sair de casa.»
Por outro lado, embora não possa ser modificador por uma expressão de grau (o que acontece apenas aos adjetivos graduáveis), morador pode surgir em posição de modificador restritivo de nome:
(2) «As pessoas moradoras neste bairro deram conta do ocorrido.»
e também em posição predicativa, como predicativo do sujeito:
(3) «Álvaro é morador nesta rua.»
No âmbito desta possibilidade, a frase apresentada seria equivalente a:
(4) ««Álvaro, que mora na Rua das Acácias, foi assaltado ao sair de casa.»
Assim, consideramos que este é um caso de ambiguidade entre nome e adjetivo, ficando a classificação dependente do que poderá ser a intenção do locutor.
Se considerarmos que se trata de um substantivo, este pertencerá à subclasse dos abstratos porque denota um evento e não uma realidade física com uma constituição material observável ou palpável2.
Morador deriva de um verbo eventivo morar e expressa a relação temática de agente («que mora / o que mora»), sendo acompanhado do argumento do verbo, que, neste caso, exprime o tema, como acontece em (6) e (7)1:
(5) «destruir o objeto»
(6) «a destruição do objeto»
Por essa razão, o constituinte «na Rua das Acácias» desempenha a função de complemento do nome/ nominal.
Disponha sempre!
1. Este mecanismo de derivação, que permite a formação de nomes deverbais com o sufixo -dor, está descrito em Mira Mateus, Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, sbt. p. 336.
2. Para maior aprofundamento sobre a oposição tradicional entre os traços concreto e abstrato do substantivo, cf. Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 986-988.