Em um mesmo jornal de grande circulação, no Brasil, tenho observado diferentes grafias para «imitar ou descrever alguém que reclama demais» ou para «satirizar e tirar sarro de reclamações ou brigas desnecessárias, servindo como argumento para as pessoas pararem de falar».
Afinal, que grafia devemos adotar na escrita? “Mimimi”, “mi mi mi” ou “mi-mi-mi”?
Eis os contextos:
a) “Nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos de enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos?”, questionou o presidente em São Simão (GO).” (Marcelo Toledo e Luís Cláudio, Saúde, Folha de São Paulo, 04/03/2021);
b) “Finalmente o futebol está de volta nesta quarta-feira! Depois de quase um mês de muito blá-blá-blá, mi mi mi e jogos horripilantes, vamos ter três jogos de verdade hoje. Palmeiras x Inter, Grêmio x Bahia, Athletico x Flamengo abrem as quartas de final da Copa do Brasil. Felizmente acabou a Copa América, uma das piores edições da história, que não deixará saudades.” (Ágora São Paulo, Esporte, Folha de São Paulo, 10/07/2019); e
c) “Era um papel bastante distanciado, porque o Estado se comporta como reflexo da sociedade que o compõe, negando esse processo de morte. Desde novembro de 2018, temos uma normativa sobre os cuidados paliativos no SUS. Está aprovado, reconhecido. Precisamos agora ter quem faça. Temos que mostrar ao que viemos, sem mi-mi-mi.” (Paulo Markun, Colunas e Blogs, Folha de São Paulo, 21/08/2019)
Sei que existem as locuções conjuncionais «antes que» e «depois que».
Pretendo saber se também é correto usar para o mesmo efeito as expressões «antes de que» e «depois de que» usando uma construção análoga à de «para além de que». Tinha para mim que era possível dizer «depois de que» mas não «antes de que». Achei no entanto um pouco arbitrário.
Procurei em várias gramáticas e não vi nada de conclusivo. Também só encontrei algumas referências tangenciais no Ciberdúvidas, que não me deram a certeza. Deste modo, decidi verificar a ocorrência das expressões no ReversoContext e encontrei centenas de ocorrências.
Essas expressões são de fato gramaticalmente aceitáveis?
Algumas ocorrências que encontrei de pronomes oblíquos átonos arcaicos:
«Que estais no céu, santificado... Não no disse eu, menina? Seja o vosso nome…» (Almeida Garrett)
«Ele ou é trova, ou latim muito enrevezado, que eu não no entendo.» (Almeida Garrett)
«Via estar todo o Céu determinado / De fazer de Lisboa nova Roma; / Não no pode estorvar, que destinado / Está doutro Poder que tudo doma.» (Camões)
«O favor com que mais se acende o engenho / Não no dá a pátria, não, que está metida…» (Camões)
«Ora sabei, padre Fr. João, que eu bem no supunha, bem no esperava; mas parecia-me impossível, sempre me parecia impossível que viesse a acontecer.» (Eça de Queirós)
«A culpa de se malograrem estes sublimes intentos quem na tem é a sociedade…» (Camilo Castelo Branco)
«Parentes, amigos, nem visitas nenhumas parecia não nas ter.» (Almeida Garrett)
Há alguma explicação para o uso da consoante n antes dos oblíquos átonos?
Muito obrigado!
Já li a pergunta "A concordância do verbo doer" e tenho uma pergunta relacionada: tem a palavra dor de ser usada em concordância com o número da parte do corpo que está a doer?
«Dores na costas», mas «dor de cabeça»?
Na minha língua materna seria sempre o plural, porque a região que dói não é bem delineada e praticamente inumerável.
Surgiu-me uma dúvida sobre a necessidade ou, até, obrigatoriedade de repetir o símbolo de graus Celsius numa sequência de valores, como na seguinte frase:
«A uma temperatura ambiente de +10 °C a 35 °C, a temperatura interior do aparelho deve situar-se entre +2 °C e +8 °C.»
Nas minhas pesquisas, encontrei a supressão da medida apenas em textos jornalísticos que eliminavam, porém, também a referência a «Celsius», como neste exemplo:
«Outono começa hoje com temperaturas entre 20 e 27 graus e chuva no Minho» (Diário de Notícias, 23/09/2019).
Daí a dúvida que gostava de ver esclarecida: numa frase semelhante à primeira que cito, deve escrever-se «temperatura ambiente de +10 °C a 35 °C» ou também é possível escrever «temperatura ambiente de +10 a 35 °C»?
Muito obrigada pelo vosso trabalho incansável, pelo auxílio precioso que prestam a toda a comunidade de falantes da língua portuguesa.
O consulente segue a norma ortográfica de 45.
Num índice de títulos, uma obra que comece por um número (por exemplo, «2001: Odisseia no Espaço») deve vir antes ou depois das que começam por letras? Obrigado.
Na expressão «rumo a Canaã» (em referência à Canaã bíblica), ocorre ou não crase?
Para mim, não há, porque «quem vai a Canaã e volta de Canaã – acento para quê?», mas, em diversos textos acadêmicos e jornalísticos confiáveis, vi o contrário, o que abalou minha convicção.
Grato.
Gostaria de saber porque dizemos «conta à ordem» (com artigo definido feminino e, consequentemente, com o acento grave), mas «conta a prazo» (sem artigo nenhum e apenas a preposição "a")?
Obrigada!
Agora que a Holanda se chama Países Baixos, como devemos denominar os seus habitantes?
Não estará errada a expressão «tão negro como o...»? O correcto não será «tão negro quanto o...»?
Obrigado.
[N.E. – O consulente grafa correcto, conforme a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. A forma atual é correto.]
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