Do ponto de vista do padrão correto do português, evita-se, como já antes dissemos no Ciberdúvidas (ver Textos Relacionados, infra) o encontro do auxiliar ir com ir usado como verbo pleno. O caso da legenda constitui, portanto, um erro no quadro da norma de Portugal ou na de outros países de língua portuguesa.
Contudo, em vários falares regionais, por exemplo, nos da Madeira, registam-se as formas «vou ir» ou «vamos ir» (sublinhado nosso):
(1) «[...] [E]ncontramos buxo encostado ou buxo voltado, “Entorse na barriga provocado por queda, o que é vulgar em crianças e adultos. – Eu acho, vezenha qu`o piqueno `tá c`o buxo encostado. Vou ir a casa duma milher intendida.”» (Maria Florentina Silva Santos, À luz das Palavras quase Esquecidas, Universidade da Madeira, p. 72).
(2) «"Eu penso que vamos ir a uma coisa paradoxal: o volume, o custo, igual ao que é o orçamento anual da Região Autónoma"» [declarações de Alberto João Jardim, antigo presidente do Governo Regional da Madeira (1978-2015) ao programa Grande Reportagem, citado por Helder Guégués, Assim Mesmo, 26/02/2010].
É verdade que nas legendas se devem evitar padrões regionais, recomendando-se a adoção de uma língua mais neutra. No entanto, é possível que a tradução reflita alguma precipitação, talvez a verter em português a construção inglesa «we are not going to go» (ou mais coloquialmente «we're not gonna go»). Pode igualmente tratar-se de alguma interferência linguística, pela televisão ou nalguma plataforma digital, de conteúdo em língua espanhola, na qual, na linguagem corrente e correta, é possível «voy a ir» («vou ir») e «vamos a ir» («vamos ir»).