Uma notícia publicada no site do jornal Público destaca um fenómeno que parece já ter chegado a Portugal: hikikomori. Diz essa notícia que «o hikikomori, que significa "isolado em casa", caracteriza-se pelo isolamento extremo, superior a seis meses, dentro de casa ou, por vezes, de uma só divisão».
Hikikomori constitui, portanto, um termo cunhado para descrever um fenómeno que afeta a saúde mental, em que as pessoas desenvolvem um comportamento de extremo isolamento doméstico. Além de se referir ao fenómeno, o vocábulo japonês é também usado para descrever os próprios reclusos. Podemos afirmar que os hikokomori são indivíduos que, citando a psicóloga e professora Ivone Patrão, em declarações à CNN Portugal, «não estão com pessoas fisicamente, não têm o desejo de estar, fazem tudo online, desde compras a trabalho, a relacionamentos… Vivem sem contacto com ninguém. E há aqui uma correspondência com a dependência online e do ponto de vista da saúde mental, que é aí que devemos estar preocupados».
Linguisticamente, hikikomori, assim grafado no alfabeto latino, tem origem no japonês ひきこもり ou 引き篭もり, e, como tal, é um estrangeirismo, mais concretamente, um japonismo ou japonesismo (cf. Dicionário Houaiss). Foi popularizado pelo psiquiatra japonês Tamaki Saitō, que publicou Hikikomori: Owaranai Shishunki (Hikikomori: Uma adolescência sem fim – tradução livre; ver Wikipédia). Como curiosidade, diga-se que a palavra já aparece registada em 1603 sob a forma fiqicomori, com o significado de «recolher-se ou estar encerrado», no Vocabulario da Lingoa de Iapam, um dicionário japonês-português compilado por missionários jesuítas (ver Word Histories e Telmo Verdelho, "O Vocabulario da lingoa de Iapam (1603), uma fonte inexplorada da lexicografia portuguesa", 1995).
A pergunta que se coloca é, então: haverá algum termo ou expressão equivalentes em português para hikikomori, uma vez que o comportamento assim denominado já não pertence somente ao contexto cultural japonês? Até ao momento, não se encontra registo de expressão que tenha correspondência direta. No entanto, em português, parece razoável aceitar expressões como isolamento social, reclusão social ou autoconfinamento e, no que à pessoa concerne, isolado socialmente, recluso social ou autoconfinado. Ainda assim, se se argumentar que estas propostas de tradução não transmitem a essência do conceito japonês, o melhor é optar pela exatidão da palavra nipónica. Além disso, há diversos estrangeirismos provenientes do japonês, também romanizados, que permanecem no nosso léxico precisamente como estrangeirismos, tais como: sushi, tsunami, anime, zen e origami. Todos estes termos, naturalmente, devem ser grafados em itálico ou entre aspas para indicar o seu estatuto de estrangeirismo.