É verdade que a língua japonesa e a portuguesa andaram fazendo intercâmbios – o português chegou a ser a língua geral de comércio em todos os portos asiáticos, a partir do século XV –, mas a hipótese de que o “né” usado tão repetidamente pelos japoneses tenha origem na contra(c)ção “não é” parece não ter comprovação.
O “ne” japonês (que não leva acento agudo) equivale, às vezes, ao nosso “não é”, mas é empregado também, e principalmente, nas expressões coloquiais, para enfatizar o que se disse antes.
Na frase “Kyoo wa ii tenki desu ne” (Hoje o tempo está bom, não é?), teríamos um exemplo do primeiro caso.
Nesta, um exemplo do segundo: «Ki wo tsukete ne». Traduzida literalmente, significaria «cuida do teu espírito». Trata-se, no entanto, de uma frase usada para se despedir de alguém, recomendando-lhe que vá com cuidado, o que exclui a possibilidade de o “ne”, aqui, ser igual a «não é».
Além disso, o “ne” é utilizado em todo o Japão, e não apenas nas áreas mais influenciadas pela missão portuguesa. A frase «Eu fui ao parque ontem, e lá encontrei Maria», facilmente, pode ser dita por um japonês da seguinte forma: «Eu, ne, fui ao parque, ne, ontem, ne, e lá, ne, encontrei Maria, ne.»
Ao que tudo indica, quando os japoneses e portugueses se encontraram, cada qual já tinha o seu “ne”.