«A empresa tinha aceite» uma determinada proposta, ouviu-se (…) num noticiário. «Tinha aceite» ou «tinha aceitado»? «Tinha entregue» ou «tinha entregado»? «Tinha eleito» ou «tinha elegido»?
A dúvida pode surgir porque estes verbos têm dois particípios passados, um regular, com a terminação em -ado ou em -ido (aceitado, entregado, elegido), e um irregular, reduzido (aceite, entregue, eleito). Existindo as duas formas, vamos, então, ver em que situações se utilizam.
A regra é esta: usa-se o particípio passado regular quando o auxiliar é o verbo ter, e o irregular quando o auxiliar é o verbo ser ou o estar.
Alguns exemplos:
(1) «Os empregados têm aceitado as propostas. As propostas foram aceites. As propostas estão aceites.»
(2) «Os alunos têm entregado os trabalhos a tempo. Os trabalhos foram entregues. Os trabalhos estão entregues.»
(3) «A assembleia tem elegido o presidente à segunda volta. O presidente foi eleito. O presidente está eleito.»
Assim, na frase com que iniciámos este texto, deveria ter sido usado o particípio regular: «A empresa tinha aceitado a proposta.»
Exemplo de outros verbos com dois particípios passados: expulsar (expulsado e expulso), salvar (salvado e salvo), exprimir (exprimido e expresso), extinguir (extinguido e extinto).
Há, no entanto, dois verbos em que por vezes se usa indevidamente uma forma irregular como particípio passado. São eles empregar e encarregar. Deverá ser usado apenas o particípio passado regular — empregado e encarregado (e não “empregue” e “encarregue”) —, referindo-se, por exemplo, que as pessoas «foram encarregadas» de uma tarefa e que «foram empregados» todos os meios disponíveis.
- «Empregam-se meios… vendem-se andares…»
E, a propósito, deverá dizer-se que numa operação «se empregou muitos meios» ou «se empregaram muitos meios»?
Não há, certamente, dúvidas de que a construção correcta é a última.
Ora, trata-se de uma situação idêntica a «vendem-se casas», «arrendam-se apartamentos» ou «alugam-se barcos». Há quem hesite, por não saber bem se se deve usar o verbo na 3.ª pessoa do singular («vende-se andares») ou na 3.ª do plural, concordando com o substantivo que se lhe segue («vendem-se andares»). Talvez com a evidência da semelhança entre estas frases comece a deixar de haver dúvidas a respeito da forma de as escrever. Trata-se de frases em que se constrói a voz passiva com a partícula apassivante se, concordando, portanto, o verbo com o substantivo a que diz respeito.
É que o português permite duas opções para a construção de frases na voz passiva: ou com o auxiliar ser ou com a partícula apassivante se.
Na generalidade das situações, a frase na voz passiva é construída por meio do uso do auxiliar ser. Por exemplo, à oração «os jovens compreenderam a mensagem», que está na voz activa, corresponde «a mensagem foi compreendida pelos jovens».
No entanto, se não se pretender indicar o agente ou se ele estiver omisso, usa-se a partícula apassivante — «dão-se explicações», «fazem-se obras de vulto» —, concordando o verbo com o substantivo ao qual diz respeito (e que se lhe segue), passando, portanto para o plural, se esse substantivo estiver no plural.
E assim se apresentaram alguns exemplos relativos à construção verbal…
artigo publicado no Diário do Alentejo de 29 de Fevereiro de 2008, na rubrica A Vez… ao Português