A alternância entre frito – fritado não é igualável à de absorto – absorvido.
Frito é o particípio passado irregular (forma forte) do verbo fritar; fritado é a forma regular (forma fraca) do mesmo verbo. Absorvido é o particípio de absorver; absorto é hoje um adjectivo que já foi um particípio irregular.
As formas regulares empregam-se, em regra, com os auxiliares ter e haver; as formas irregulares, com os verbos ser e estar.
Vamos aos exemplos.
a) O ovo havia sido frito (por mim).
O verbo haver é auxiliar de tempo composto (pretérito mais-que-perfeito) numa estrutura passiva; nesta medida, o verbo que conta para a questão é o verbo ser.
b) O ovo havia estado frito.1
Novamente, o verbo haver é auxiliar de tempo composto, agora numa estrutura em que estar é verbo principal (copulativo). É, portanto, o verbo estar que é válido para a regra acima invocada.
c) O líquido tinha sido absorvido (pelo organismo).
O verbo ter cumpre aqui as mesmas funções de haver, numa mesma estrutura passiva.
d) O homem havia estado absorto.
Haver é o verbo auxiliar que permite formar o pretérito mais-que-perfeito de estar, verbo copulativo. Absorto é adjectivo [com a função sintáctica de predicativo do sujeito].
Atentemos nas equivalências:
d’) A Isabel havia estado doente/nervosa.
Absorto faz parte do grupo dos chamados adjectivos participiais: formas que, em fases anteriores da evolução da língua, foram particípios, mas que actualmente apenas se usam como adjectivos. Eis outros exemplos: cheio, contente, fixo, largo, limpo, maduro, resoluto.
1Do ponto de vista da pragmática, é difícil considerar a situação efectiva de produção de um enunciado como este, porque está aí representada uma situação de duração temporária que, pelo facto de estar projectada num passado anterior a um ponto de referência também ele passado (através do recurso ao pretérito perfeito) induz numa leitura de transição de estado. A ser assim, o ovo passaria de frito a esturricado, carbonizado ou a que outro estado?