As palavras servem sobretudo para designar a realidade que nos rodeia. Estudá-las é muitas vezes procurar a sua etimologia, isto é, a sua origem e as alterações que sofreram até chegarem à sua forma atual. Quando analisamos a história por detrás das palavras do português, percebemos que muitas delas provêm de étimos (vocábulos ou radicais) de origem latina, contudo, também há palavras que, embora tenham uma estrutura morfológica “típica” portuguesa, têm histórias curiosas que extrapolam o mero contacto e transformação de línguas. É o caso de certas palavras que, embora aparentem ser comuns, provêm de nomes de figuras históricas que, de certa maneira, acabaram por marcar a situação que, mais tarde, estas passaram a descrever. Exemplo disso é o famoso nome comum guilhotina, utilizado para designar um instrumento de decapitação que desfere um golpe no pescoço da vítima, e que teve origem no apelido do médico Joseph-Ignace Guillotin, que terá solicitado aos revolucionários franceses a sua utilização nos condenados à morte durante a Revolução Francesa.
No entanto, guilhotina não é a única palavra presente nos dicionários portugueses cuja origem está relacionada com um nome próprio de alguém. Ainda no âmbito das execuções, surge o termo carrasco. Utilizado para mencionar a pessoa que executa os condenados à pena de morte ou alguém cruel que inflige maus-tratos, tem, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, a sua origem no nome de um famoso algoz da cidade de Lisboa no século XV, Belchior Nunes Carrasco. Mas, indo um pouco mais além do âmbito das penas de mortes, podemos encontrar mais vocábulos, com uma origem associada a personalidades.
Quando a fome aperta e o tempo escasseia, habitualmente procuramos um alimento de fácil confeção e que nos sacie, algo como, por exemplo, uma sanduíche. Este termo, com origem na palavra inglesa sandwich, provém, de acordo com Oxford English Dictionary, do título nobiliárquico de John Montagu, mais conhecido por Lord Sandwich, e que ficou na História por provavelmente ter inventado as famosas duas fatias de pão entre as quais se põe geralmente queijo, manteiga, fiambre, etc.
Outro nome comum que curiosamente também tem origem num antropónimo é pechisbeque. De acordo com a grande maioria dos dicionários, este termo, que designa qualquer adereço que imita o ouro ou qualquer objeto de reduzido valor, vem do nome do relojoeiro inglês, Christopher Pinchbeck. Consta que terá sido ele a inventar uma liga de cobre e zinco, que imita o ouro e que, por isso, é de barata aquisição.
Em síntese, exemplos como estes demonstram bem que as palavras não transportam só consigo um sentido e uma forma, pois podem também contar as histórias que estão por detrás dos significados e que muitas vezes se relacionam com aqueles que voluntária ou involuntariamente as criaram.