1. Embora ao longo da vida reavaliemos constantemente o que sabemos, a verdade paradoxal é que a aprendizagem requer certo grau de estabilidade e coerência na transmissão e apreensão de conhecimentos, como sublinha uma resposta a uma pergunta feita no Consultório: no estudo dos textos e da sua diversidade, em contexto escolar, deve falar-se de tipos de texto, de modos literários ou géneros discursivos? Outra questão diz respeito ao ensino da gramática: que critério distingue uma oração subordinada adverbial causal de uma oração coordenada explicativa? A presente atualização traz ainda dúvidas sobre morfologia, variação e etimologia.
2. O protagonismo crescente de um jovem futebolista português, o benfiquista João Félix – bem eloquente no encontro de domingo, 3 de janeiro p.p., com o Sporting – trouxe de novo à ribalta mediática a errónea pronúncia do apelido Félix. Foi assim que na rádio e na televisão raros disseram bem "Félis", e não com o encontro consonântico [ks]. Recorde-se que, por razões históricas, o x final quer deste nome próprio quer do nome comum fénix soa como o -s de lápis* .
Sobre este tópico, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "/Félis/, tal como quer e diz, sempre, Bagão Félix", "Feliz com Félix", "Félix".
3. Quem imagina que a língua inglesa tem palavras com origem no português? Basta recordar que marmalade, o conhecido doce de laranja de tradição britânica, é a anglicização do nosso marmelada. O Nosso Idioma transcreve com a devida vénia a crónica que o professor universitário e tradutor Marco Neves escreveu, a propósito dos lusismos do inglês, para o portal Sapo 24 e o blogue Certas Palavras em 3/02/2019.
4. Nelson Rodrigues (1912–1980) foi dos mais talentosos e criativos escritores em língua portuguesa. Jornalista, romancista, folhetinista, com uma vastíssima obra como teatrólogo – ainda hoje considerado o mais influente dramaturgo do Brasil –, foi como cronista de costumes e do futebol brasileiro que mais se notabilizou no seu tempo. Nesta faceta, da sua torrencial produção (escrevia três crónicas por dia, todos os dias), ficou para sempre toda uma galeria de imagens e expressões saborosíssimas, como conta o jornalista e escritor Ruy Castro, no Diário de Notícias de 2 de fevereiro de 2019. «O óbvio ululante» foi uma das que passou para a história do bem escrever em português, assim contado pelo autor de O Anjo Pornográfico – A Vida de Nelson Rodrigues (ed. Tinta da China):
«Nelson dizia que "só os profetas enxergam o óbvio". E exemplificava com a história de seu amigo Otto Lara Resende, que, durante anos, passou de carro todos os dias em frente ao Pão de Açúcar e nunca o vira. Um dia, casualmente, Otto olhou pela janela e viu a monumental pedra na baía de Guanabara. Freou de repente na pista de alta velocidade, saiu alucinado do carro e, tendo palpitações, apontava para o Pão de Açúcar e exclamava: "De onde saiu? De onde saiu? Ontem não estava aqui!" As pessoas que pararam atrás dele tiveram de abaná-lo. E Nelson concluía: "Era o encontro triunfal do Otto com o óbvio. O óbvio ululante!".»
5. Finalmente, uma chamada de atenção para as palestras que o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi regista em vídeo no seu canal Planeta Língua, no Youtube. Realce, desta vez, para a discussão que Bizzochi desenvolve ao encontro do que muitos de nós já perguntaram com alguma irritação: porque não falamos todos a mesma língua, da mesma maneira?