1. Na resposta coletiva à pandemia, as decisões são políticas, e os erros têm consequências desastrosas. No Brasil, será este o caso da promoção governamental do chamado «tratamento precoce», segundo o jornal brasileiro Época, «um coquetel de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19 que inclui substâncias como cloroquina, azitromicina e invermectina». Abriu-se um inquérito, e uma das pessoas a depor é a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do Ministério da Saúde, que os media brasileiros já trataram de alcunhar como «capitã cloroquina». Este apodo e o termo TrateCov, designação de uma controversa aplicação de diagnóstico desenvolvida também pelo Ministério de Saúde brasileiro, fazem parte das sete novas entradas na rubrica A covid-19 na língua, igualmente alusivas ao impacto social planetário da covid-19: felicidade, países pobres, recuos e avanços, trabalho infantil e tuk-tuks.
Imagem de Gordon Johnson, Pixabay, 28/05/2021.
2. A análise das frases e seus constituintes (sintaxe) suscita em muitas pessoas uma torrente de lugares-comuns ou memórias incertas de passagens camonianas de construção intrincada. Mas, para o estudo profícuo da sintaxe, basta começar com frases da língua atual, ao alcance da intuição dos falantes. É o que acontece com os esclarecimentos acerca do verbo servir, do nome consentimento e de orações relativas introduzidas pela locução o que, que fazem parte da atualização do Consultório. A estas três respostas, juntam-se quatro respostas sobre variação regional («andar com alguém à escola» e evolução divergente de certos topónimos estrangeiros), derivação (o gentílico de Restelo), e ortografia (e-book).
3. Nas Notícias, dá-se conta da aprovação e publicação do Manual de Linguagem Inclusiva, que, em Portugal, o Conselho Económico e Social (CES), órgão constitucional de consulta e concertação social, aprovou em 20 de maio de 2021. Trata-se de um guia baseado em normativas nacionais e internacionais centradas no uso de linguagem inclusiva e promotora da igual visibilidade e simetria de mulheres e homens. Entre as recomendações, encontram-se alternativas ao uso genérico do masculino plural: propõe-se que casos como «os estudantes» sejam substituídos por «os estudantes e as estudantes». Aconselha-se ainda o recurso a expressões não discriminatórias: por exemplo, em lugar de falar de «os idosos» como um bloco, dá-se preferência à perífrase «pessoas idosas» ou «seniores».
Sobre os aspetos de género da linguagem inclusiva, consultem-se os seguintes artigos: "Parceiros sociais vão ter manual para dialogar de forma 'neutra'", "Uma questão de género: 'Portugueses', ou 'Portugueses e Portuguesas'?", "'Machista' e 'heteropatriarcal', a língua portuguesa?", A gramática não tem sexo, não é inclusiva nem exclusiva", "Elas são eles e eles são elas?", "Os cidadãos e a gramática"
4. Na rubrica O Nosso Idioma, transcreve-se,com a devida vénia, do jornal Público (25/'05/2021), a crónica que, jocosamente, o escritor Miguel Esteves Cardoso dedicou à ponderosa questão da possibilidade de derivar palavras no campo lexical da escatologia (ou seja, da «alusão aos temas das fezes, da imundície, da obscenidade», conforme definição da Infopédia), considerando que «“merdar” faz falta por ser explícito».
5. Ainda fazendo eco da polémica desencadeada pelo jornalista brasileiro Sérgio Rodrigues, em redor das forças centrífugas do português contemporâneo (ver Acordo Ortográfico), assista-se ao debate promovido pelo projeto bilingue PGlobal (jornal Público) e conduzido pela jornalista Leonete Botelho em 25/05/2021, com o título "A língua portuguesa tem futuro ou está condenada?". Intervêm o embaixador Luís Faro Ramos (embaixada de Portugal no Brasil), a professora e investigadora Madalena Vaz Pinto (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e o ator Ricardo Pereira (Conselho da Diáspora Portuguesa).
6. Fonte inesgotável de informação coligida de forma colaborativa, disponível em várias línguas e, portanto, expoente mundial da promoção do multilinguismo, a Wikipédia escrita em português comemorou vinte anos em 11 de maio de 2021. Sobre este aniversário, realçado pelo facto de a Wikipédia em língua portuguesa ter surgido poucos meses depois do lançamento da versão original em inglês em 15 de janeiro de 2001, ler mais aqui.
7. Sobre os três programas que, em Portugal, a rádio pública dedica à língua portuguesa, chama-se a atenção para:
– Os produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa – Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, 28 de maio, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*), e o Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, 30 de maio, pelas 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 5 de junho, às 15h30*);
– Também na Antena 2, o programa Palavras Cruzadas, de Dalila Carvalho, de segunda a sexta-feira, às 9h50 e 18h20, na semana de 31 de maio a 4 de junho, tem como tema a relevância dada ao inglês nas provas de recrutamento de quadros superiores no mundo empresarial português.
* Hora oficial de Portugal continental.