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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Há erros indesculpáveis – mas o de confundir consumir com consumar, ainda por cima, numa manchete jornalística, já é a realidade a ultrapassar qualquer ficção. É o caso deste: «esmagadora maioria consume antibióticos» – registado na rubrica Pelourinho, num apontamento de José Mário Costa, que lembra que consume é forma da flexão de consumar, e não de consumir (que é verbo da 3.ª conjugação e se conjuga como subir).

2. Na ordem do dia continua, entretanto, a  (falta de) saúde no cenário ameaçador da pandemia de covid-19. Em Portugal, a renovação do estado de emergência por mais 15 dias em Portugal, aprovada no parlamento, traz um conjunto de medidas a anunciar no sábado, 21 de novembro. Multiplicam-se, portanto, as intervenções e declarações orais, acompanhadas de registos escritos, no que vem a constituir um bom corpus do uso da construção redundante «há dias atrás», associação incorreta das formas corretas «há dias» e «dias atrás».

Cf.  "Há três anos atrás",  "Há anos atrás", "O recorrente 'há anos atrás'" e "Do '... years ago' ao 'há anos "atrás'".

3. No glossário A covid-19 na língua, que o Ciberdúvidas tem estado a desenvolver desde a deflagração da pandemia no mundo, há seis novas entradas bem representativas da incerteza destes tempos que assinalam distintas medidas de prevenção, contenção e tratamento da covid-19: "bolsotrumpistas",«inquéritos epidemiológicos», «números na direção errada», «o pior ainda está para vir», risco e veto. Revistas foram também as entradas relativas aos diferentes tipos de teste que se perfilam: por um lado, os «testes de diagnóstico (da covid-19)» ou «testes (RT-)PCR»; e, por outro, os «testes sorológicos» (ou «serológicos») ou, ainda, «imunoensaios», os quais compreendem os «testes ELISA» e os «testes rápidos».

4. Na vivência coletiva da doença, difícil seria não empregar o verbo tratar, que também levanta uma dúvida que se esclarece no Consultório. Cinco outras perguntas completam a presenta atualização; pode dizer-se «expressou que...»? A frase «lembra-o para regar as flores» estará correta? O nome mandarim tem forma para o género feminino? Em Os Lusíadas, os decassílabos são uniformes? E qual a origem do topónimo Salgadeira, na serra da Estrela?

5. Em O Nosso Idioma, aborda-se a etimologia de uma palavra bem atual – calamidade –, num apontamento do professor João Nogueira da Costa. Nesta mesma rubrica, transcreve-se também uma crónica do  escritor Miguel Esteves Cardoso,  sobre o problema de tantos portugueses comunicarem escorreitamente  no  seu dia a dia, mas pessimamente quando falam na televisão (t«in jornal Público de 17/11/2020). E quanto  à arte da ironia e as formas que ela toma, disponibiliza-se um artigo do professor brasileiro Roberto Lota, que dedica um comentário a um curioso exemplo achado em As Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908).

6. Uma breve referência a ecos do Brasil, à volta do polémico comunicado que um colégio dirigiu à comunidade escolar, propondo uma linguagem mais neutra,não binária, que prevê a substituição de «queridos alunos» por "querides alunes" (ler Gazeta do Povo, em 11/11/2020, e Jornal de Notícias, em 19/11/2020).

Sobre o debate gerado pela linguagem inclusiva e pelo condicionamento linguístico da construção de género, leiam-se nas páginas do Ciberdúvidas: "'A gramática não tem sexo, não é inclusiva nem exclusiva'", "Car@s leitorxs (e utentas)", "Gramática ainda não tem sexo", "Elas são eles e eles são elas?", "Os cidadãos e a gramática", "As 19 maiores disputas linguísticas de todos os tempos ", "@ entre acentos,géneros e beijos" e "'Machista' e 'heteropatriarcal', a língua portuguesa?».

7. Comemorações, eventos e outras iniciativas de assinalar:

– Em 20 de novembro, comemora-se  Dia Universal dos Direitos da Criança, data que se assinala desde 1954 por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU).

– Na mesma data, integrado no programa de comemorações que a cidade de Santarém dedica ao centenário de Bernardo Santareno (1920-1981), realiza-se às 20h00, no Teatro Sá da Bandeira, o espetáculo A Arder, baseado numa famosa obra do autor homenageado, O Judeu.

– O compromisso da ONU com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para disponibilizar materiais pedagógicos em português (notícia aqui).

– Em São Paulo, está patente a exposição Farsa. Língua, Fratura, Ficção: Brasil-Portugal”, no Sesc Pompeia, com trabalhos de mais de 50 artistas do ambos os países e de diferentes gerações — entre eles Ana Hatherly, Ana Maria Maiolino, Grada KilombaLygia Pape e Carla Filipe. Há igualmente uma galeria virtual da exposição, com obras comentadas, depoimentos e entrevistas com artistas. A entrada é gratuita, mas é necessário agendá-la pela página do Sesc.

8. Dois  registos ainda: o de uma nova publicação do professor universitário e classicista Frederico Lourenço, que lançou Latim do Zero, para todos aqueles que queiram ir mais longe na consciência da importância estruturante do património latino da língua portuguesa (ver apresentação de Nova Gramática do Latim, do mesmo autor, na Montra de Livros); e o lançamento, também em Portugal, do livro O Cânone, que recolhe 51 ensaios sobre 49 escritores portugueses, apresentados por ordem alfabética – da autoria de António M. Feijó, João R. Figueiredo e Miguel Tamen.

9. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, relevo para:

– Os erros mais comuns da língua portuguesa, comentados pela professora e linguista Sandra Duarte Tavares, no Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, 20 de novembro, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*);

– A conferência Como abordar a leitura extensiva, com a participação da professora Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola da Língua Portuguesa, numa iniciativa da editora LIDEL, a propósito do papel da leitura no ensino de Português Língua Estrangeira, no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 22 de novembro, pelas 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 28 de novembro, às 15h30*), programa que conta ainda com intervenções da professora universitária Edleise Mendes, acerca do tema calão e criatividade, e da professora e linguista Sandra Duarte Tavares, sobre o anglicismo workshop.

* Hora oficial de Portugal continental, ficando os programas Língua de Todos e Páginas de Português disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. O cenário da pandemia alterou-se nos últimos dias com o anúncio de novas vacinas que trazem a esperança de que num futuro não muito distante a humanidade possa regressar gradualmente à normalidade que perdeu. Como todas as novas realidades, também estas vão recebendo novos nomes que vão entrando no vocabulário quotidiano e que o glossáro A covid-19 na língua vai registando: AstraZeneca, BBIBP-CorV são nomes de novas vacinas que se colocam ao lado dos nomes dos laboratórios que as produzem, como é o caso de Pfizer ou Moderna. Estas vacinas recentemente desenvolvidas apostam numa nova tecnologia, até agora nunca utilizada, sendo, por isso, conhecidas como Vacinas mRNA. Também em Portugal, uma equipa de investigadores, em parceria com uma homónima israelita, desenvolve estudos que visam a criação de uma Vacina portuguesa. Para além destes termos, poderão ainda ser consultadas as entradas Achatar, «Cenário de guerra», ECMO, Genótipo, Helmet, «Incidência cumulativa», «No fio da navalha», «Travar a(s) cadeia(s) de transmissão» e «Tubo de ensaio».  

2. Recentemente, o primeiro-ministro português António Costa afirmou «Não há uma bala de prata que resolva todos os problemas», usando a expressão «bala de prata» que fora já mobilizada pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde. Este termo curioso foi analisado pela professora Carla Marques na crónica divulgada no Programa Páginas de Português, da Antena 2 e também incluído em O Léxico da Covid-19

3. O mundo assiste, curioso e expectante, às transformações da vida política nos Estados Unidos. Entre as mudanças já conhecidas encontra-se o facto de a vice-presidência ser pela primeira vez ocupada por uma mulher: Kamala Harris. Este acontecimento,  além de auspicioso, abre lugar a uma curiosa questão linguística: que nome dar ao seu marido  Doug Emhoff? Há já uma longa tradição de referir a mulher do vice-presidente como «segunda-dama». Qual será, todavia, o nome masculino equivalente a este termo? A ausência de situações reais levou a que a língua não sentisse pressão para criar este nome, pelo que a tradição não encontra resposta para esta indefinição. Não obstante, há já quem aponte os termos «segundo-cavalheiro» ou «segundo-consorte» como possíveis designações, embora haja quem defenda que não há nome para essa realidade. Caberá aos usos optar pela forma mais consensual. Para o espanhol, a Fundéu RAE propõe que a forma correta para designar o marido da vice-presidente seja "segundo caballero". 

CfConsorte político

4. Guna é um nome usado tipicamente no calão da região do Porto para referir um jovem de classe social mais desfavorecida. Esta é a explicação que se apresenta numa das respostas que integram a atualização do Consultório linguístico. Opaco também é o significado do adjetivo aclaratório, cujos sentidos aqui se esclarecem. Numa outra questão, a partir do título Madame Bovary, obra de Gustave Flaubert, levanta-se a problemática da tradução do título, aspeto sobre o qual se reflete numa outra resposta. No domínio sintático, analisa-se a possibilidade de o verbo chamar-se ser incluído numa construção passiva. Ainda uma resposta sobre deixis e uma outra sobre os conceitos de lexicalização e composicionalidade

5. Na comunicação social portuguesa, usa-se com alguma regularidade a expressão «correr atrás do prejuízo», a qual gera alguma perplexidade se pensarmos nos sentidos que atualiza, os quais se relacionam com o sentido positivo de procurar o sucesso. Este aspeto é motivo para um apontamento da professora Carla Marques, que passa em revista também alguns usos do verbo correr.

6. A ideia de que os jovens têm um vocabulário reduzido faz parte do senso comum. Todavia, esta é uma ideia que importa discutir. É esta a perspetiva adotada pela linguista e investigadora Margarita Correia no seu artigo publicado no Diário de Notícias (aqui transcrito com a devida vénia). 

7. Haverá uma relação improvável entre as palavras vacavacina? A nova crónica do tradutor e professor Marco Neves ensaia uma resposta para esta questão (originalmente publicada no blogue Certas Palavras e no Sapo 24 e aqui transcrita com a devida vénia). 

8. A diversidade linguística que caracteriza os países da CPLP deve ser um aspeto a considerar no âmbito das políticas de língua e da formação de professores, como defende a autora e professora Edleise Mendes na crónica apresentada no programa Páginas de Português, da Antena 2 de 15 de novembro p.p. (que pode ser lida e ouvida aqui). 

9. A 19 de novembro assinalam-se os cem anos do nascimento do dramaturgo português Bernardo Santareno, uma efeméride integrada num programa  diversificado de manifestações artísticas marcadas entre 19 de setembro e 18 de dezembro.

A Antena 2 transmite  no próprio dia 19 de novembro, às 18h00,  a peça de teatro Nos Mares do Fim do Mundo, com direção do encenador Jorge Silva Melo.

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1.  Com as infeções pelo coronavírus sempre a aumentar, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, no discurso de abertura da Assembleia Mundial da Saúde, em 9 de novembro p. p., observou: «As pessoas podem estar fartas da pandemia... mas a pandemia não está farta delas.» A  frase faz parte do conjunto de novas entradas (13) no glossário O léxico da covid-19. É o caso da sigla MIS-C – denominação de uma doença infantil resultante da covid-19 – e dois nomes que parecem iluminar o fundo deste túnel: a BioNtech, a empresa alemã que se associou à farmacêutica norte-americana Pfizer para produzir uma vacina baseada numa nova tecnologia; e a vacina russa  Sputnik V. Entram ainda as expressões ensaio clínico, porque decorrem projetos que ainda estão em fase de experimentação; guerra fria, em referência ao despique na investigação e indústria farmacêuticas; força-tarefa, como tradução do inglês task-force, de uso no Basil ("Joe Biden nomeia brasileira para sua força-tarefa de combate à covid-19 nos EUA"); e a lembrar como é incerto o resultado de tudo isto, a cláusula «se tudo correr bem».

2. Ainda em "A covid-19 na língua", no compasso de espera para uma cura ou para a contenção da pandemia, em Portugal fala-se da «tempestade perfeita» que se avizinha, da necessidade de protocolos para as instituições definirem formas de atuar, enquanto, reforçando as medidas restritivas novamente em vigor, o primeiro-ministro sublinha que «temos de ficar em casa» e o consumo reinventa-se nas «entregas ao domicílio». No Brasil, o atual presidente da República continua a desvalorizar a covid-19 e diz que é tema para "urubuzada".

3. Em Portugal, a semana também ficou marcada por outro termo – caranguejola. Embora a aceção (política) deste vocábulo tivesse sido logo associada ao de geringonça – que se impôs nos finais de 2015 como designativo da solução governativa do PS, com o apoio dos partidos à sua esquerda (Bloco de Esquerda, PCP e o PEV) – , só agora é que passou a ser usado no sentido de «geringonça de direita», com o novo governo regional do Açores, como acontece na seguinte frase: «...  Seja qual for a origem da gaffe, premeditada ou acidental, é óbvio que, para censurar o Chega e os partidos que deram a mão a Ventura na “caranguejola” açoriana...» (Manuel Carvalho, "Augusto Santos Silva e os amigos dos tiranos", Público, 11/11/2020). Outros exemplos deste uso aqui e aqui.

4. No Consultório, novas entradas também: os limites do contraste entre «ao encontro de» e «de encontro de»; a definição de donzela e donzel; o valor locativo de para em «estar para a Alemanha» ; a sintaxe do verbo exultar; o uso do condicional em frases como «começou a escola teria uns seis anos»; e a etimologia de gambito, a propósito de uma série de televisão.

5. É inevitável reparar nos desafios enfrentados pelas línguas vernáculas por causa da avalancha de anglicismos associados à presente crise. Por exemplo, a respeito dos transportes aéreos e dos seus passageiros, circulam as expressões «travel bubble» e «travel bubble flight», as quais se referem à organização de viagens em condições de máxima proteção relativamente ao SARS-CoV-2. Entre as línguas românicas vizinhas, vê-se que, em Espanha, a Fundéu/RAE recomenda que em espanhol se diga e escreva «vuelos burbuja», literalmente, «voos bolha/burbulha»; em França, tem-se usado «bulles de voyage» («bolhas de viagem») e, em italiano, «bolla di viaggio». E o que se passa com o português? Embora a transposição da solução espanhola – «voo-bolha» – seja possível, é corrente a expressão «bolha de viagem/viagens», perfeitamente aceitável

Cf. Testes rápidos à covid-19... em inglês + Pobre Língua: Portenglish +Como se não bastasse a maldita covid!...+Será que estamos mesmo em Portugal?

6. E como se não bastasse a pandemia, detetou-se a norte do Porto um surto de legionela. Sobre o termo legionela, consultem-se "Legionela escrito em português", "Palavras do nosso tempo" e "25 palavras que marcaram 2014".

7. Dois registos sobre palavras, um sobre um erro mítico e outro como eco da atualidade: um apontamento do tradutor e divulgador de temas linguísticos Marco Neves, que retoma outro texto, à volta da suposta incorreção  de «fazer a barba» (Certas Palavras, em 12/11/2020); e, porque o discurso do presidente Bolsonaro é sempre surpreendente, um artigo do linguista Aldo Bizzocchi a propósito de mais uma frase controversa: «[o Brasil] tem de deixar de ser um país de maricas» (Diário de um Linguista, 12/11/2020). 

8. Notícias relacionadas com atividades em redor da língua portuguesa, do ensino à literatura:

– A BLX – Rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa leva a cabo em 16 de novembro p. f. mais uma sessão de "Uma história tradicional por dia não sabe o bem que lhe fazia".

– Um ciclo intitulado Webinars PLE – Como abordar? e dedicado ao ensino do Português como Língua Estrangeira (PLE) é a proposta da editora portuguesa LIDEL. Haverá três sessões, e a primeira delas, no dia 19/11/2020, às 17h00, aborda o tema da leitura e tem como oradora a coordenadora da Ciberescola da Língua Portuguesa, Ana Sousa Martins.

–  Decorre de 23 de novembro a 3 de dezembro p.f. o Congresso Virtual “Português na China: 6 décadas no Ensino Superior", promovido pelo Instituto Politécnico de Macau. As inscrições são até 17 novembro (mais informação aqui).

– Finalmente, porque no cinema também se ouve a língua portuguesa, refira-se a estreia em grande ecrã de O Nosso Cônsul em Havana, de Francisco Manso, que se inspirou numa fase da vida de Eça de Queirós passada em Havana, entre 1872 e 1874, quando Cuba fazia ainda parte das então chamadas Antilhas Espanholas.

9. A semana que ora finda fica igualmente marcada em Portugal pelo falecimento de três personalidades que, a seu modo nas respetivas atividades, deram contributo importante à língua portuguesa: o jornalista e escritor Artur Portela (1937-2020), cujos editoriais e crónicas fizeram parte da intensa discussão política do Portugal de 1975; o pintor e poeta Cruzeiro Seixas (1920-2020), da geração do Surrealismo português (na imagem, Estudo para Futuros Encontros, 1954); e o arquiteto paisagista, ecologista e político Gonçalo Ribeiro Telles, que, além de deixar uma obra notável (assinou com António Barreto Viana o projeto do jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, Prémio Valmor em 1975), tem produção escrita donde se recolhem muitos termos vernáculos relativos à dendrologia portuguesa, como é o caso de A Árvore em Portugal (Assírio e Alvim, 1999).

10. Temas centrais dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa: em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 13 de novembro, pelas 13h20*; repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*), a diversidade linguística nos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, o bom uso de antecipadamente e atempadamente, o termo trumpismo e a natureza policêntrica da língua portuguesa; em Páginas de Português (Antena 2, no domingo, 15 de novembro, pelas 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 21 de novembro, às 15h30*), o estudo Práticas de Leitura dos Estudantes dos Ensinos Básico e Secundário, realizado no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa e a expressão «bala de prata»

* Hora oficial de Portugal continental, ficando o programa Língua de Todos e Páginas de Português disponíveis posteriormente aqui e aqui.

11. Um registo final para as eleições municipais no Brasil, no domingo, 15 de novembro (1.º turno/volta), que ocorrem no contexto preocupante da situação sanitária do país – especialmente afetado pela pandemia. Coincidindo com o Dia da República – que assinala os 131 anos da proclamação da República Federativa Presidencialista brasileira –, assinalem-se, entre tantos outros, estes textos disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas: «O Brasil que tem sotaque» + Variantes Cariocas da Língua Portuguesa + Linguagem é destino no Brasil e no mundo + Nove expressões populares que nasceram no Brasil escravocrata + Ainda o uso de bilião – em Angola, no Brasil e em PortugalLíngua Franca do Boçalnarismo + A uberização do karma  Bolsonaristão e bolsonique +  Carreata + Cloroquiner + Panelaço + Quarentenar

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1. Dia de São Martinho celebra-se, em Portugal, a 11 de novembro, recordando o santo gaulês e o seu gesto de humanidade, ao partilhar o seu manto com um pedinte. É tipicamente um dia de convívio popular, que aproxima familiares e amigos à volta do tradicional magusto acompanhado pela água-pé ou pela jeropiga. Mandam os costumes também que nesta data se prove o vinho novo, o que fica bem marcado pelo provérbio «No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho». Constitui esta uma boa oportunidade para recordar algum material relacionado com o tema disponível no repositório do Ciberdúvidas: «Castanha», «Água-pé», «A propósito de jeropiga», «Jeropiga, de novo», «Magusto», «O neologismo castaneícola», «Mangusto» e «Cuidado com a Língua! com uma vendedora de castanhas». 

2.  Este ano, porém,  em Portugal, devido à nova declaração de estado de emergência, os convívios sociais serão muito limitados. O Estado de emergência IV entrou em vigor no dia 9 de novembro, condicionando, mais uma vez, a vida dos portugueses, o que justifica a entrada desta expressão no A covid-19 na língua. Esta situação traz consigo novas expressões que se relacionam com as medidas implementadas, como Rastreio, Recolher obrigatório II ou Controlo da temperatura, e motiva igualmente as entradas (regressar à) Estaca zero e «Luz ao fundo do túnel ?». É também no âmbito da evolução da pandemia que se constata que, em Portugal, as Mulheres são mais afetadas pela covid-19 do que os homens. Nesta atualização do glossário, podem ainda consultar-se os termos «A pão e água», Animação da pandemia, Ciência, Compaixão, Falso negativo, Falso positivoPreocupação, Meme, «Não deixar para amanhã» e Zaragatoar

3. A análise política da situação atual em Portugal tem trazido à tona de água as palavras cumplicidade e consonância para descrever as relações entre o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro António Costa. Os sentidos ativados na utilização destes termos podem dizer muito sobre as intenções de quem os usa, como explica a professora Carla Marques, em novo apontamento na rubrica O Nosso Idioma.  

4. A simples realização de um teste rápido promovido por um organismo oficial português pode obrigar-nos a constatar que em Portugal pode estar a ter lugar uma colonização anglófona, pois num local público de um país de língua portuguesa todas as indicações surgem em inglês, como nos conta José Mário Costa neste seu apontamento para o Pelourinho.

5. Atentando na atualidade noticiosa relacionada com o tufão Goni e a tempestade AtsaniSara Mourato explica, numa breve nota, que, em português, a grafia destes fenómenos não necessita de nenhum destaque (plica ou itálico). 

6. O uso e a combinação correta dos tempos e modos verbais oferece, por vezes, dúvidas aos utilizadores da língua. Nesta resposta, incluída na atualização do Consultório, sistematizam-se algumas possibilidades combinatórias entre o verbo da oração subordinante e o da oração subordinada, atentando ainda nos sentidos que se geram. Disponibilizam-se também duas respostas que analisam a correção das expressões «quanta vez» e «o quanto antes» e ainda a análise sintática da função de um pronome relativo e a explicação de alguns termos específicos da área da fonética e da fonologia

 7. A utilização do pronome você foi, durante muito tempo, duramente reprimida em Portugal. Todavia, o seu uso, embora se mantenha desadequado, persiste. Analisando este facto da língua, a professora e investigadora Margarita Correia, no artigo «Você é estrebaria?», aborda esta expressão em particular e equaciona uma possível evolução da norma (publicado no Diário de Notícias e aqui partilhado com a devida vénia). 

8. O linguista brasileiro Aldo Bizzocchi reflete sobre a evolução da língua popular e a da norma-padrão no Brasil, num texto onde se rejeita a substituição da segunda pela primeira, num apontamento divulgado pelo autor na sua página de Facebook e aqui partilhado com a devida vénia. 

9. Entre as notícias de interesse, destaque para as seguintes : 

— O projeto #EstudoemCasa, na RTP Memória,que vai passar a integrar conteúdos para o ensino secundário e ensino profissional na sua página da internet (notícia aqui);

— O novo canal dedicado ao Conhecimento promovido pela televisão pública portuguesa – que, juntamente, com a RTP África, passará a integrar a Televisão Digital Terrestre (TDT).*

Atualmente, estão disponíveis na TDT a RTP1, RTP2, RTP3, RTP MemóriaSICTVI e o canal Parlamento (AR TV).

— A possibilidade de se (re)ver as conferências apresentadas no XXII Colóquio de Outono, com o tema Populismos e suas linguagens, organizado pelo Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, nos dias 5 e 6 de novembro de 2020 ( in rubrica Notícias);

— O vídeo da gravação da mesa-redonda subordinada ao tema Gênero em foco, que juntou os professores e linguistas brasileiros Rosane ReisAldo Bizzocchi e Pablo Jamilk

10. Uma nota final para a rubrica Correio, onde se divulga o agradecimento de um consulente por uma resposta do nosso consultor Gonçalo Neves.

 

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1. O novo coronavírus dissemina-se e suga a vida de cada país, forçando o regresso a medidas restritivas. Em Portugal, por exemplo, o Presidente da República declara o estado de emergência, aceite pelo governo e aprovado pelo parlamento, para vigorar entre 9 e 23 de novembro*. Ao contrário de março passado, não se prevê o confinamento geral, mas o «confinamento parcial», também chamado «confinamento seletivo». São estas duas das novas entradas no glossário "A covid-19 na língua " (O Nosso Idioma), as quais se juntam a «capacidade instalada», marcando a preocupação com a capacidade de internamento dos hospitais; a «eventos e celebrações»*, duo a evitar quando se trata de aglomerações superiores a 10 ou 20 pessoas; a «A crise não mora aqui», título de uma notícia (Expresso, 04/11/2020) sobre como a pandemia tem (ironicamente) favorecido o emprego em certos setores de atividade; e a visons, em referência ao abate de milhões de animais desta espécie  em Espanha e na Dinamarca, depois de neles ter sido detetada uma mutação do novo coronavírus que já infetou muitas pessoas.

* Observe-se que, no primeiro anúncio das medidas restritivas propostas se previa a suspensão da realização de feiras e mercados de levante, a qual não se concretizou. A expressão «mercado de levante», «mercado que se monta e desmonta todos os dias», não deixou de suscitar comentários, dado o seu uso se afigurar raro ou insólito.

2. A expetativa criada pela arrastada contagem dos votos nas eleições norte-americanas faz também eco em "O léxico da covid-19", onde se acolhe o neologismo trumpada, bem expressivo da qualidade das tiradas do presidente dos EUA e candidato a um segundo mandato no escrutínio realizado neste país em 3 de novembro p. p. – Donald Trump –, que se tem distinguido pelas manifestações de negacionismo em relação à pandemia de covid-19 (ver também o ponto 8 desta Abertura).

3. No Consultório, um tópico volta às atualizações, o uso de «de que»: diz-se «a proposta que seja declarado», ou «a proposta de que seja declarado»? Outra questão reúne as áreas da sintaxe e da morfologia: em que contextos se diz e escreve «por o», em vez de usar a contração pelo («vou pelo caminho das rosas»)? Aborda-se ainda a ortografia de compostos com o radical oligo- (oligoelemento e oligossacárido), além de se avaliar a formação do termo intercorporalidade. Finalmente, fala-se do problemático aportuguesamento do onomástico do grego antigo a propósito do nome mitológico Ceu.

4. Em O Nosso Idioma, discute-se a correção de duas construções que se tornaram frequentes no discurso sobre a covid-19: «testar positivo/negativo» e «dar positivo/negativo». Trata-se de um apontamento de Sara Mourato, que se refere também à origem destas construções. 

5. A propósito do tufão Goni, que assolou as Filipinas, convém assinalar que os nomes atribuídos a furacões, ciclones ou tufões se escrevem sem aspas. Na larga maioria das notícias em linha escritas em português, não se verificam erros quanto a este preceito, mas a deteção de um caso – na página tempo.pt, em 03/11/2020 – justifica o alvitre aqui feito. Observe-se que na imprensa em língua espanhola não são raros os usos aspados, os quais a Fundéu/RAE considera erróneos (recomendação de 05/11/2020). 

6.  No campo do ensino e formação, registe-se o curso presencial sobre pontuação que a professora e divulgadora de temas gramaticais Sandra Duarte Tavares vai ministrar em 25 de novembro na Biblioteca Municipal de Lisboa,  no Palácio das Galveias, com apoio da Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. As vagas são limitadas, mas a entrada é gratuita, sujeita a inscrição prévia (aqui).

7. Das notícias à volta da língua portuguesa, salientam-se:

– O anúncio de que vão ser apoiados mais de 150 projetos de editoras de 44 países pela Linha de Apoio à Edição e Tradução da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua;

– A realização via Internet do colóquio Camilo: génese e recepção, em 11 e 12 novembro p.f. pelo Grupo de Filologia do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa e pelo Grupo 1 Literatura e Cultura Portuguesas do Centro de Investigação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL); e

–  Duas sessões de formação à distância para Professores de Português Língua Não Materna (PLNM) nos EUA, promovidas pela Universidade Católica do Porto, nos dias 5 e 6 de novembro p.f. Pormenores aqui.

8. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, têm relevo:

– Uma  conversa com a professora e linguista Ana Martins, a propósito dos seus livros Contos com Nível, destinados a alunos de Português como Língua Estrangeira (PLE), no programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 6 de novembro, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*);

–  O  papel da leitura na atual sociedade, abordado pelo professor universitário João Luís Lisboa , no programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 8 de novembro, pelas 12h30** (com repetição no sábado seguinte, 14 de novembro, às 15h30**). Esta e missão inclui ainda o foco sobre o termo trumpismo e o gentílico dos Estados Unidos da América –  norte-americano  (e não "americano") ou estadunidense, de uso corrente no Brasil –, a propósito das presidenciais nos EUA, assim como um apontamento da linguista Edleise Mendes, professora da Universidade Federal da Bahia.

** Hora oficial de Portugal continental, ficando os programas Língua de Todos disponível Páginas de Português disponíveis posteriormente aquiaqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. segunda vaga da pandemia é já um facto e o aumento do número de contágios confirma-se inequivocamente. Em Portugal, o governo tenta lidar com a situação propondo medidas ajustadas à realidade de cada município que contemplam soluções mais restritivas para aqueles que representam maior risco, de forma a tentar controlar o avanço das infeções. O cenário de estado de emergência está de novo a ser equacionado e, na atual situação, a palavra confinamento volta a estar na ordem do dia, associada a diferentes realidades que vão assumindo protagonismo: «Confinamento curto», «Confinamento musculado», «Dever cívico de confinamento domiciliário», Desproporcionado, «Estado de emergência preventiva (ou seletivo)», «Estado de emergência soft», «Novembro Negro», Internamentos, Sobrelotação, «Lava (bem) as mãos»,  «Feiras e mercados», «Oito meses» e Sintomas. Acompanhando a velocidade dos acontecimentos, estas são as treze novas palavras/expressões que dão entrada no A covid-19 na língua

2. Nos Estados Unidos da América, a evolução da covid-19 parece imparável. Todavia, as atenções viram-se, a 3 de novembro, com particular acuidade, para as eleições que decidirão quem será o futuro presidente, num caminho de continuidade com Donald Trump ou renovado por mão de Joe Biden. Recomenda-se no sítio da Fundéu RAE que se utilize a sigla EUA e não USA e refere-se que o nome do país se pode usar de forma abreviada como Estados Unidos (com artigo definido ou não), o que também se aplica ao português. Quanto ao gentílico, a palavra norte-americano é preferível a americano e, para referir o resultado das votações, são admissíveis as duas expressões «eleito presidente» e «eleito como presidente». Ainda a propósito das eleições dos EUA, o jornalista Ferreira Fernandes aborda, de forma irónica e jocosa, a situação, sob a capa de diversos recursos expressivos que comprovam sobretudo a "arte retórica" do atual presidente Donald Trump (artigo disponível no jornal Público).

Este acontecimento, que traz ainda inúmeras palavras relacionadas com os EUA para a ribalta mediática, justifica que aqui se recordem algumas respostas relacionadas com o tema, como «Sigla EUA», «A posição do símbolo do dólar (EUA)», mas também entradas no Léxico da Covid-19, algumas resultantes da "criatividade" seu atual presidente, como «Não tenham medo» ou «Cocktail de anticorpos». Acontecimentos que tiveram lugar nos EUA motivaram apontamentos como «Respirar e joelho» e Aberturas em torno do país e do seu presidente: «A nova presidência dos EUA por palavras», «Dos tempos de Obama aos (novos) de Trump». 

3.  Na atualização do consultório, explicam-se as origens do betacismo, fenómeno comummente conhecido como «troca do v pelo b». Numa perspetiva também de história da língua, esclarece-se a etimologia do nome das refeições em Portugal. No âmbito da sintaxe, analisam-se as funções sintáticas dos constituintes «para o que os outros sofrem» (em «Ele acusa-a de, por estar bem de saúde, se estar ralando para o que os outros sofrem...») e de «o temporal» (em «O temporal não há meio de parar.»). Por fim, verifica-se se existe algum problema de semântica temporal no sintagma «ver o golpe de Estado».  

4. Há erros que são novos: aparecem vindos de algum deslize individual e desaparecem sem causar danos de maior à língua. Outros são persistentes e passam de boca em boca ou de caneta em caneta sem que ninguém os consiga corrigir. E não é por falta de aviso ou de explicação. Este é o caso da confusão (crónica) entre «ir ao encontro de» e «ir de encontro a», que, desta vez, manchou o discurso da presidente da Câmara de Matosinhos Luísa Salgueiro, como assinala neste apontamento o cofundador do Ciberdúvidas e seu responsável editorial José Mário Costa.

5.  A professora e investigadora Margarita Correia dedicou um artigo ao medo e ao terror, palavras que surgem após a decapitação em França, do professor Samuel Paty (texto divulgado no jornal no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia). 

6.  O Dia dos Fiéis Defuntos, que, em Portugal, tem lugar no dia 1 de novembro, foi este ano celebrado sem que os portugueses se pudessem deslocar entre concelhos. Não obstante, as palavras finadoscemitérios continuaram a marcar o dia, como recordou a professora Carla Marques no seu apontamento no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2.

7. Numa altura em que a expansão da língua portuguesa está a ter lugar de forma evidente, com particular incidência nos países africanos, o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa Francisco Ribeiro Telles, numa entrevista ao Diário de Notícias, reflete sobre as questões da língua e sobre a importância estratégica da CPLP na afirmação do português no mundo.  

8. Ministério da Cultura português vai atribuir à escritora e jornalista Maria Teresa Horta a Medalha de Mérito Cultural, pelo  «percurso ímpar na história da cultura portuguesa», numa cerimónia que terá lugar em data ainda a definir. A atribuição desta medalha coincide com os 60 anos de vida literária da autora e os 50 sobre o início de conceção das Novas Cartas Portuguesas, que escreveu com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, ambas já falecidas. (notícia aqui). 

9. O Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho realiza, nos dias 5 e 6 de novembro o seu XXII Colóquio de Outono, conferência internacional online subordinado ao tema Populismos e suas linguagens (mais informações aqui).

10. Uma nota final de pesar para o encerramento da Livraria Cotovia, em Lisboa, que, até ao final de 2020, fecha portas, após 32 anos de edições que abrangem mais de 350 autores. 

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1. Perante uma pandemia imparável, há quem rejeite o uso da máscara e desvalorize as infeções causadas pelo SARS-CoV-2, numa posição de negacionismo que é adotada até pelas mais altas instâncias políticas. O clima é, portanto, de medo e tensão, como sugerem quatro das mais recentes entradas em  O léxico da covid-19 (O Nosso Idioma): #BolsonaroTemRazão, censura#GloboLixo e infecciosidade. Este glossário acolhe igualmente o termo Next Generation EU, associado aos esforços financeiros europeus para minorar o impacto da crise sanitária.

2. Ainda em A covid-19 na língua, regista-se a expressão inglesa "trick or treat" – uma tradução possível é «doçura ou travessura» –, recorrente durante o Halloween, ou Noite das Bruxas*, cujos festejos e esconjuros de medos ancestrais – substituídos este ano por outro tipo de brincadeiras infantis, condizentes com o indispensável distanciamento fisíco por causa  do covid-19 – coincidindo com a véspera de Todos os Santos, a 1 de novembro, dão uma nota de paradoxal descontração no meio da bem real e assustadora ameaça pandémica

* Sobre a Noite das Bruxas, leia-se, em arquivo: "O modismo incontornável, o Dia de Todos os Santos vs. Noite das Bruxas, a formação da palavra pobreza e o vocábulo incongruado", "O advérbio latino circa, a expressão 'sou a enviar…', o Halloween, a Fala Bracarense e a arte de imprimir", "Dias das Bruxas ou dia sagrado?", "A propósito do «Dia das Bruxas», sim ou não?".

3. Procurando esconjurar outro medo – o de, em Portugal, poder faltar ao Orçamento do Estado a  aprovação no parlamento –, o ministro do Estado e da Economia Pedro Siza Vieira usou indistintamente as palavras contração, retração e contenção. Na rubrica O Nosso Idioma, a professora Carla Marques dedica um apontamento à revisão do significado destes termos.

4. Para contrariar receios e visões pessimistas sobre o futuro da arte literária, Vítor Aguiar e Silva, vencedor do Prémio Camões de 2020, reuniu um conjunto de ensaios da sua autoria num volume a que deu o sugestivo título  de Colheita de Inverno (Edições Almedina, 2020). Na Montra de Livros, faz-se uma breve apresentação desta obra.

5. No Consultório, pergunta-se: em convite-surpresa, o hífen é obrigatório? Porque está incorreta a frase «ele afirmou-se e tornou um craque»? Duas questões sobre tópicos do estudo da deixis – os deíticos em geral e o valor temporal do demonstrativo este – completam a presente atualização .

6. Os ditados fizeram-se para se desdizerem é a conclusão que ocorre extrair de mais um comentário do escritor Miguel Esteves Cardoso, que, a propósito do enunciado genérico «o ótimo é inimigo do bom», em tom entre irónico e provocador, publicou em 29 de outubro de 2020, no jornal Público, uma crónica intitulada "O ótimo é amigo", cuja leitura aqui se recomenda.

7. A respeito do Brasil, três notícias:

– No Festival Literário de Araxá, que termina em 1 de novembro p. f., Milton Hatoum e Chico Buarque, entre outros nomes, propõem aumentar a circulação de ideias entre os autores de língua portuguesa ao redor do mundo num manifesto onde se lê: «A língua não é um conceito geopolítico, a língua é a forma de nos fazermos entender, de pensar e de viver» (ler também aqui e aqui).

– A Academia Brasileira de Letras acaba de criar Novas Palavras, página atualizada semanalmente que apresenta «(...)  uma palavra ou expressão que passou a ter uso corrente na língua portuguesa, podendo ser um neologismo, um empréstimo linguístico ou mesmo um vocábulo que, apesar de já existir há algum tempo na língua, tem sido usado com mais frequência ou com um novo sentido nos dias de hoje» (ler mais aqui). A palavra da semana que finda é aporofobia.

– Luís Faro Ramos é o novo embaixador de Portugal em Brasília (ler entrevista). Esta nomeação acarreta outra, a do novo presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua*, cujo cargo passa a ser ocupado por mais um diplomata, Luís Ribeiro de Almeida, até agora embaixador de Portugal na Argentina.

* A propósito da linha de cofinanciamento de projetos de desenvolvimento gerida pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e dos resultados das respetivas candidaturas por Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), ler artigo de Teresa Ribeiro, secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação no Público de 29/10/2020.

8. Outros registos de atualidade:

– a atribuição do prémio literário Fernando Namora ao escritor e editor português Francisco José Viegas;

–a petição “Português para Todos – Pelo direito das nossas crianças e jovens a um Ensino de Português no Estrangeiro de qualidade e gratuito”, que pede a revogação da propina no ensino de Português a crianças e jovens no estrangeiro (mais informação aqui);

– em 28 de outubro p. p., a apresentação do livro "A Projeção Internacional do Espanhol e do Português", em sessão que reuniu os presidentes do Camões I. P. e do Instituto Cervantes e se realizou em Madrid;

– a publicação de dados que revelam o impacto negativo da suspensão de aulas na aprendizagem da leitura nos primeiros anos de escolaridade em Portugal.

9. Entre os tópicos dos programas que a Associação Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa salientam-se:

– o glossário europeu de léxico marinho, um projeto do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, sobre o qual falam duas responsáveis, as investigadoras  Joana Baço e Nina Vieira, no programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 30 de outubro, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*).

– o Prémio Camões 2020, atribuído ao professor universitário português Vítor Aguiar Silva, e o livro Pontuação em Português – Guia prático para escrever melhor, de Marco Neves, no programa Páginas de Português, no ar na Antena 2, domingo, dia 1 de novembro, pelas 12h30** (com repetição no sábado seguinte, 7 de novembro, às 15h30**), emissão que conta ainda com apontamentos da  professora Carla Marques (sobre as palavras finados e cemitério, alusivas ao feriado religioso de Todos os Santos) e da linguista Margarita Correia (a propósito dos anglicismos em marcas portuguesas). 

** Hora oficial de Portugal continental, ficando os programas Língua de Todos e Páginas de Português disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. As eleições regionais dos Açores, que tiveram lugar no dia 25 de outubro, ditaram o fim da maioria absoluta do PS Açores, ficando ainda marcadas pela entrada na Assembleia dos partidos Chega, Iniciativa Liberal e PAN, que elegeram pela primeira vez um deputado. A situação política dos Açores é motivo pertinente para que aqui se recorde que a forma correta do adjetivo gentílico correspondente é açoriano, com a vogal de ligação -i-, e não a forma *açoreano (cf. aqui). Foi também a partir do topónimo Açores que o escritor Vitorino Nemésio criou a palavra açorianidade, numa tentativa de designar a personalidade característica daquelas ilhas. Muitos outros autores e pessoas comuns tomaram estas ilhas e todas as suas cambiantes como motivo literário e como base de identidade. Este é o ponto de partida da reportagem de autoria da jornalista Fernanda Câncio, intitulada "Açores, Ilhas inventadas", divulgada no Diário de Notícias.  

2. As novas decisões que vão sendo tomadas com vista a procurar controlar a evolução da pandemia, como é o caso, em Portugal, da obrigatoriedade do uso de máscara na via pública, associam-se a palavras e expressões que se vão dispondo na ordem do dia, de forma a dizerem a realidade. É o caso de «inimigo comum», internados, «cuidados intensivos»  ou «doente crítico», que marcam a área lexical da saúde e que passam a constar como entradas no glossário A covid-19 na língua. Outras novas entradas marcam quer a evolução da situação quer as medidas e atitudes que vão tendo lugar: «a festa acabou», «alerta vermelho», endurecimento, finados, galopante, «grande incógnita», IVAucher, «Não baixar a guarda», obrigatoriedade, ONU semiconfinamento

3. Na atualização do consultório ficam cinco novas respostas a perguntas de ordem muito diversa: Qual a origem do termo macarrónico e a sua relação com macaroni, palavra inglesa usada para designar um jovem pretensioso e afetado? É incorreto ou coloquial o uso de você em lugar de vós? Estará o uso de vós em total declínio? Terá a localidade de Santo Tirso tido o nome de Cidenai na Idade Média? No plano da semântica temporal, qual a diferença entre os valores aspetuais habitual e iterativo? Qual a função sintática de «aos troncos» na frase «Amarraram uma rede aos troncos». 

4. O valor económico que uma língua pode assumir é o tema da crónica da professora Edleise Mendes, que reflete sobre o crescimento da língua portuguesa e sobre a importância de se delinearem estratégias que promovam a centralidade desta língua (crónica lida no programa Páginas de Português, na Antena 2, do dia 20 de outubro de 2020). 

5. O verbo haver sempre ofereceu dificuldades aos falantes, que nem sempre conseguem resolver as dificuldades que este coloca. Um novo problema relacionado com este verbo é agora equacionado pelo cronista Miguel Esteves Cardoso, que denuncia a sua substituição pela locução «estar disponível», na crónica intitulada "Já não há haver" (divulgada no jornal Público e aqui transcrita com a devida vénia). 

6. Alguns diminutivos cuja formação tem uma base erudita são o tema do apontamento do professor João Nogueira da Costa, que inclui no levantamento efetuado palavras como óvulo, fórmula, película, entre muitas outras.

7. No universo do jornalismo de âmbito futebolístico é frequente encontrar atropelos à língua portuguesa. Desta feita, porém, não se trata de uma queda, mas de um grande tombo, como se refere neste apontamento de João Alferes Gonçalves no sítio Clube de Jornalistas e que se transcreve, com a devida vénia, no Pelourinho. Com efeito um jornalista muito desatento falhou, duas vezes, na conjugação do verbo rever, ao afirmar «o árbitro reveu o lance e reveu bem». Dada a gravidade do erro, convém aqui recordar que o verbo rever é um derivado de ver, pelo que assume as flexões deste verbo. Assim: ele viu - ele reviu

Outros tombos de prolação recorrentes no audiovisual português recordados no apontamento assinado pelo jorrnalista João Alferes Gonçalves, que fica transcrito no Pelourinho são o /cólestról/ (em vez de colesterol, com acento só no último o), o melher (em vez de mulher), a /órganização/ (em vez de organização), o /ófcial/ (em vez de oficial) e o, está visto,  nunca mais erradicado óvinte ...

8. Entre as notícias de interesse, destaque para a exposição A Propaganda nas Eleições Presidenciais dos EUA, organizada pela Associação Cultural Ephemera, em colaboração com o CEI-Iscte e o CIES-Iscte e com o Núcleo de Estudantes de História Moderna e Contemporânea e o Núcleo de Alunos de Ciência Política, aberta ao público até 20 de novembro, entre as 10h00 e as 18h00.

9. Registo final para a notícia divulgada pela FundéuRAE * sobre a reestruturação do portal da Real Academia Espanhola. com nova imagem, um motor de busca mais rápido de acesso ao seu "Diccionario de la lengua española" e ao seu consultório linguístico. Foi criado ainda um espaço com termos, expressões e neologismos  ainda não constantes do dicionário, assim como jogos de linguagem didáticos, integrando ainda  um novo campo de testes para o projeto Língua Espanhola e Inteligência Artificial para o uso do espanhol correto em computadores. Sob o lema Una imagen que lleva a mas de 1000 ("Uma imagem vale mais mais do que mil palavras"), o portal da Academia Real Espanhola passou a dar acesso livre ao seu vastíssimo arquivo de mais de 280 000 volumes, ao longo de 300 anos de história.

*Sigla composta pela junção das siglas de Fundação para o Espanhol Urgente e de Real Academia Espanhola. 

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1. Sempre a crescerem, os números da pandemia levam os países a encontrar formas de conter as cadeias de contágio, voltando a impor-se o recolhimento em casa, como ocorre na Irlanda e na região espanhola de Navarra. Em Portugal, o Governo afasta a possibilidade de tornar a confinar a população em geral, mas a palavra confinamento, adjetivada de curto ou prolongado, novamente se lê e ouve no discurso mediático, razão por que se justifica uma nova entrada em "A covid-19 na língua" (O Nosso Idioma). Outros termos e expressões introduzidos neste glossário: CoronVac, «Médicos pela verdade»,  #PledgetoPausesindemia e sindémico.

2. Como se abreviam as formas de tratamento Vossa Excelência e Sua Excelência? No Consultório, relembram-se as abreviaturas consolidadas no padrão de uso há, pelo menos, oito décadas, além de terem resposta cinco outras questões: como classificar a palavra salvo numa oração como «salvo quando não houver solução»? Que função sintática atribuir a «em caleche» na frase «fomos transportados em caleche»? Um cacófato detetado hoje num verso de Camões já o era no século XVI? Que sentido tem a expressão «cesto com ovos»? E, afinal, qual o verdadeiro significado de conterrâneo?

3. Nestes tempos vertiginosos de combate à covid-19, todo o cuidado é pouco com a criação dos nomes e expressões associados a linhas de ação governamental. No Pelourinho, disponibiliza-se a transcrição da crítica que Vital Moreira, professor universitário e especialista em Direito, dirige a uma abstrusa amálgama da sigla portuguesa (IVA) e  do anglicismo desnecessário (voucher): IVAucher (!).

4. Ainda na rubrica O Nosso Idioma, transcreve-se um artigo sobre a discriminação pela cor da pele, que a autora, Layane Moises Coelho, refere usando uma criação neológica – colorismo .

5. Entre notícias sobre a língua portuguesa – como matéria da criação literária, da investigação ou do ensino –, salientam-se:

– Em Penafiel, o festival literário Escritaria, cuja 13.ª edição decorre até 25 de outubro p. f., tendo por figura homenageada o jornalista e escritor Mário Zambujal;

– A realização do XXXVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística (ENAPL), este ano, à semelhança de muitos outros eventos, em linha, de 28 a 30 de outubro p.f.;

– O memorando assinado entre Portugal e o estado norte-americano do Utah, para dinamizar o ensino de Português neste território dos EUA;

– O prazo, até  9 de novembro p. f., para a apresentação de candidaturas ao PROCULTURA, programa financiado pela União Europeia e destinado aos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) e a Timor-Leste com o objetivo de apoiar projetos culturais em várias áreas (convocatória e informações para a apresentação dos projetos aqui).

6. Apesar de reveses e boicotes, a Organização das Nações Unidas (ONU)* completa 75 anos compensados por um balanço largamente positivo em defesa da paz e da solidariedade entre as nações, em prol do desenvolvimento social do mundo. Assinalando o aniversário, ONU lançou em 20 de outubro O Mundo que Queremos (#The WorlWeWant), uma coleção virtual com 75 fotos que teve a participação de mais de 130 países (ler também aqui).

* Nunca é de mais lembrar: a sigla ONU pronuncia-se como palavra aguda (cf. aquiaqui e aqui).

Cf. Mensagem do secretário-geral no 75.º aniversário das Nações Unidas + ONU marca 75 anos realçando relevância ímpar em tempo de pandemia 

7. Registo também com atualidade é o do regresso do Campeonato Mundial de Fórmula 1 a Portugal, cujo Grande Prémio se realiza em 25 de outubro, no Autódromo Internacional do Algarve. A respeito ou à volta desta competição automobilística: "A palavra campeonato", "A tradução de pole position", "Bólide, nome comum de dois géneros", "Sobre o uso dos sufixos -douro, -tório e -dromo", "Uso de sufixos -ismo e -ivo (a)", "Barras de protecção", "Moderem o pretensês".

CfGlossário da Fórmula 1: Veja os principais termos utilizados + Pequeno Dicionário de Gírias e Expressões Automobilísticas

8. Outro registo: a realização neste dia do debate final das eleições presidenciais norte-americanas. É um combate renhido, o que se trava entre a truculência do republicano Donald Trump, em fim de mandato, e Joe Biden, o candidato democrata. Além dos debates (na verdade, o primeiro, realizado em 30/09/2020, foi mais um despique ou uma zaragata), a campanha é também pontuada de entrevistas ou debates abertos à participação dos espetadores, às quais, em inglês, se chama town hall meetings, town hall forums, ou, de modo mais conciso, town halls. Em português, não parece haver um termo diferenciador deste tipo de eventos, pelo que se fala genericamente de entrevista ou debate, podendo juntar-se adjetivos para concretizar: «entrevista eleitoral aberta», «debate eleitoral aberto».

Para confronto com o espanhol, consulte-se a Fundación para el Español Urgente (Fundéu), que recomenda tertulia electoral («debate eleitoral») como expressão vernácula adequada à substituição de town hall, recorrente nos media de Espanha. Note-se, porém, que, em Portugal, o termo inglês não terá granjeado grande popularidade, optando-se geralmente por formulações em português.

9. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública  portuguesa, têm destaque:

– a recente apresentação do programa da Rede de Ensino do Português no Estrangeiro para o ano letivo 2020/2021, numa entrevista com o presidente do Camões, I. P., Luís Faro Ramos, incluída no Língua de Todos, (RDP África, sexta-feira, 23 de outubro, pelas 13h20**);

o apoio de Portugal à promoção do português e à formação de professores nos países africanos de expressão portuguesa, em conversa com Luís Faro Ramos, que passa também no Páginas de Português, (Antena 2, domingo, 25 de outubro, pelas 12h30**), programa que conta ainda com uma crónica da professora universitária Edleise Mendes sobre as línguas e o seu valor económico.

** O programa Língua de Todos é repetido em 24/10/2020, sábado, depois do noticiário das 09h00. O Páginas de Português tem repetição em 31 de outubro, sábado, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui, respetivamente.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A segunda vaga de covid-19 está a ser marcada pelo crescimento acelerado do número de infeções, o que provoca no cidadão comum e nos líderes políticos manifestações de consternação visíveis nas atitudes, decisões e também na linguagem. A metáfora, um processo retórico-linguístico que tem andado muito ligado à pandemia, voltou a ser usada neste contexto, desta feita pelo ministro da Saúde da Bélgica, que se referiu a um «tsunami de infeções». Esta é uma das cinco novas entradas no A covid-19 na língua, a par de adenovírus humano, corrupção, vacinar e vírico. No contexto do avanço dos estudos relacionados com o vírus SARS-CoV-2, voltamos a encontrar, na comunicação social, as expressões «evidência clínica» ou «evidência científica», que já aqui se desaconselharam, sendo preferível o recurso a expressões como «prova científica / clínica».

A presença de metáforas no discurso em torno da pandemia foi já objeto de reflexão em diversos textos divulgados no Ciberdúvidas. Por exemplo: «Das linhas de trincheira ao olho do furacão», «A nossa casa e as portas que se fecham e se abrem» ou «Dos caminhos da pandemia às doenças da sociedade».  

2. A mais recente publicação do professor universitário e tradutor Marco Neves intitula-se Pontuação em Português – Guia prático para escrever melhor (Edições Guerra e Paz). Esta é uma obra que «condensa as regras básicas da pontuação em português», agora apresentada na Montra de Livros. Também nesta rubrica se divulga a tese de doutoramento do professor universitário brasileiro José António Pires de Oliveira Filho, sobre o escritor goês Júlio Gonçalves (1846-1896).

3.  No Consultório, analisa-se, numa nova resposta, a etimologia da forma tomara e procura-se uma explicação para a origem do topónimo Morçoas (Alhos Vedros, Portugal). No campo da sintaxe e da significação, determina-se o sentido do verbo alcançar, usado numa frase de O Alienista, de Machado de Assis, e a diferença entre «fazer tudo» e «fazer de tudo». Por fim, apresenta-se a análise sintática de uma frase complexa

4. O recente encontro futebolístico entre as seleções fde França e de Portugal propiciou um curioso "desentendimento" linguístico. Foi quando, no lançamento prévio do jogo, o selecionador gaulês  empregou o termo revanche – traduzido livremente como vingança. Mal traduzido, pois o sentido certo do termo em desporto é desforra, como bem lembrou Didier Deschamps,  Estas são as palavras que motivaram a crónica da professora Carla Marques, emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, do dia 18 de outubro de 2020, que pode ser lida aqui.

5. Portugal e a Noruega estão a desenvolver um projeto conjunto de criação de um dicionário europeu sobre mamíferos marinhos. Este léxico marinho pretende incorporar «nomes comuns de mamíferos marinhos (cetáceos, focas e leões marinhos e sirénios) e também de elementos representados no início da época moderna (monstros marinhos, seres híbridos e elementos de folclore)», pode ler-se na apresentação do projeto

6.  A história partilhada pelas aldeias fronteiriças de Portugal e de Espanha é feita de muitos episódios de natureza política, social e até individual. A língua e os dialetos não são indiferentes à localização geográfica dos povos que as falam, mas não conhecem fronteiras ou alteração dos factos políticos. É o tempo que burila as línguas e que as aperfeiçoa ou as condena ao desaparecimento. O português oliventino, dialeto tradicional de Olivença e de Talega, é disso um bom exemplo. Este é um património imaterial que, com a passagem de Olivença para as mãos de Espanha, se foi gradualmente perdendo, devido a diversos fatores que o autor Rubén Baéz analisa no artigo «Olivença: a capitulação incumprida», que transcrevemos, com a devida vénia, em Diversidades.

7. Ente as notícias relacionadas com a língua e a lusofonia, destacamos:

— A nomeação da cabo-verdiana Cristina Duarte para conselheira especial para África da ONU;

— A 2.ª edição do projeto Estudo em Casa, que teve início em 19 de outubro de 2020, com particular incidência no ensino básico; a transmissão das aulas continuar a ter lugar na RTP Memória, das 09h00 às 16h30;

— A manutenção da Direção-Geral para a Promoção da Língua Portuguesa na Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura;

— A mesa-redonda «O tradutor e a retradução: a ansiedade da influência», com lugar pelas 15h00 do dia 27 de outubro de 2020, na Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa.  

8. Uma nota final para referir o falecimento da escritora e jornalista Helena Marques, aos 85 anos. Deixa seis obras editadas e um percurso de 36 anos de jornalismo, tendo passado por vários jornais portugueses. Recebeu diversos prémios, entre eles o mais recente, o Prémio Gazeta de Mérito, atribuído em 2013.