1. Os últimos dias têm sido agitados devido à detenção e posterior libertação e repatriamento dos ativistas que navegavam na Flotilha Global Sumud (notícia), que transportava ajuda humanitária destinada à população de Gaza. O termo flotilha, que passou a ser recorrente na comunicação social, estava algo adormecido nos usos portugueses. A palavra refere uma «frota de pequenas dimensões» e tem origem no termo castelhano flotilla. Trata-se de um termo da mesma família da palavra frota, que, como a sua variante medieval flota, adaptava flotte, um empréstimo do francês. Tendo flota, portanto, o mesmo radical de flotilha, como se justifica, então, o facto de as palavras terem atualmente radicais distintos? Estamos perante um caso de evolução da palavra em que ocorreu modificação num dos seus fonemas. Este fenómeno designa-se rotacismo e descreve uma situação em que um fonema se transforma na consoante rótica /r/. Observamos esta evolução no percurso de outras palavras, como blandu- > brando, flaccu- > fraco ou platta > prata. Por esta razão, flotilha e frota são palavras da mesma família e a primeira poderia igualmente ter evoluído para a forma "frotilha", se tivesse sido alvo de rotacismo. Todavia, tal não teve lugar, talvez porque no momento em que o castelhanismo foi importado para o português já o rotacismo não estava tão ativo e, eventualmente, por se tratar de uma palavra menos usada e, portanto, menos exposta aos fenómenos de erosão/alteração linguística.
2. A palavra moderado está também na ordem do dia devido à nova medida de apoio à habitação anunciada pelo governo português que recebeu a designação de «renda moderada» (notícia). Não obstante, parece existir uma contradição entre o tradicional significado do adjetivo moderado e a realidade que a medida pretende descrever, como constata a consultora do Ciberdúvidas Inês Gama no seu apontamento semanal: «Quando o sentido de moderado deixa de o ser».
3. Raízes distantes parece ter o provérbio «Tenho uma gaveta, não sei que lhe faça nem sei que lhe meta», cujo significado não é atualmente transparente. A professora Carla Marques explora o seu significado no desafio semanal, divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2.
4. O nome pimenta-de-caiena deve a sua origem ao nome do porto Caiena, do qual era exportada? Nem sempre as interpretações lineares serão as mais acertadas, situação que se explica nesta resposta que integra a atualização do Consultório. As palavras, a sua história, a sua morfologia e até a sua grafia marcam presença nas respostas «A palavra psicopata», «O nome pica» e «O aportuguesamento linque». Poderão ainda ser consultados esclarecimentos relacionados com a natureza dos verbos que se constroem com diferentes preposições, com o uso de preposições a anteceder orações subordinadas completivas e com o significado da construção «comemos a enjoar». Por fim, uma explicação relativa ao uso de vírgulas com o advérbio sim e uma proposta de explicação da expressão brasileira «eu é de querer isso!»
5. Os usos incorretos, registados na comunicação social, presentes em formas como «dezenas de milhar» e "cantenária" motivam um apontamento, divulgado na rubrica Pelourinho, onde o coordenador executivo do Ciberdúvidas Carlos Rocha recorda as formas corretas e explica a sua razão de ser.
6. Entre os eventos de interesse para a língua, destacamos:
– O ANIMAGE, Festival Internacional de Animação, com lugar no Recife e com início a 7 de outubro (mais informações);
– O colóquio internacional "Pensar José Cardoso Pires no centenário do seu nascimento", com lugar, nos dias 8 e 9 de outubro de 2025, em Madrid, na Faculdade de Filosofia e Letras, da Universidade Autónoma de Madrid (programa);
– A palestra «Adília Lopes e a cartografia do escândalo: transgressões da geografia amorosa na reescritura das Cartas Portuguesas», por Joana Videira, no Centro Cultural Português em Vigo, no dia 9 de outubro, pelas 19h.