1. Prosseguindo com o desafio semanal "100% Português", depois dos comentários e recomendações acerca de homebanking e phishing, é a vez de influencer. Este anglicismo não oferecerá grandes dificuldades, visto que, em paralelo, já se usa influenciador/influenciadora. É até provável que um rápido inquérito leve à conclusão de que, embora exista palavra portuguesa, há preferência pela forma inglesa. A questão, portanto, sai da análise estritamente linguística e entra no domínio da psicologia coletiva e dos fenómenos de moda. Com efeito, mesmo intuitivamente sabendo que influenciador pode sem problema estar no lugar influencer, já que são palavras criadas com base num mesmo radical de origem latina influenc-, em que não avulta diferença semântica apreciável, parece que, entre os jovens e não só, atribui-se o inglês como que um selo de modernidade que, infelizmente, não se associa ao português. Mas, reforçando a importância de encontrar soluções vernáculas e convidando os seguidores do mural do Ciberdúvidas no Facebook a darem a sua opinião, o consenso foi no sentido de influenciador constituir a palavra mais óbvia e adequada para substituir influencer.
* Tanto o inglês influencer como o português influenciador são derivados dos radicais dos verbos to influence e influenciar, respetivamente, os quais são cognatos, pois ambos remontam a influentia, um termo do latim medieval que significava «ação atribuída aos astros sobre o destino humano» (cf. Dicionário Houaiss, s. v. influência).
2. O que é correto: «coisas que convêm fazer agora» ou «que convém fazer agora»? O certo é «convém fazer agora», com convém no singular, porque o sujeito é a oração «fazer agora». Acerca dum caso semelhante, em que se comete o deslize da concordância no plural, a rubrica Pelourinho inclui um reparo da consultora Sara Mourato.
3. Diz-se «com vista ao desenvolvimento» ou «no desenvolvimento»? A questão faz parte da atualização do Consultório, que inclui outras perguntas: qual é a classe de palavra de quanto em «quantos lápis compraste»? Na frase «são todas ótimas», todas é quantificador ou pronome? Como analisar uma frase como «ser amado e ser egoísta são coisas diferentes»? Que evolução semântica teve a palavra reunião?
4. O nome do vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2025, László Krasznahorkai, desconcerta os profissionais que fazem locução na comunicação social em português. Em Diversidades, o consultor Carlos Rocha dedica um apontamento à pronúncia do nome do escritor premiado e a outros pormenores da língua húngara, também chamada magiar.
Na imagem, o diploma de José Saramago (1922-2010), que ganhou o Prémio Nobel da Literatura de 1998. Sobre a pronúncia de Nobel, consultar aqui.
5. A respeito dos conteúdos em vídeo produzidos pelo Ciberdúvidas, dois temas bem diferentes:
– no 40.º episódio de O Ciberdúvidas Vai às Escolas, esclarecem-se os alunos do Agrupamento de Escolas da Senhora da Hora (Porto) acerca do uso de vírgula entre o título de uma obra e o nome do seu autor, em casos como os de «Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto»;
– em Ciberdúvidas Responde, o 45.º episódio é dedicado à etimologia Beja, nome de cidade que, talvez para surpresa de muitos, tem origem latina e uma curiosa história de transmissão.
6. A degradação da linguagem política, com recurso a palavras vulgares e até grosseiras, para provocar choque emocional e impacto mediático, tem sido assinalada com preocupação em diferentes canais de opinião. É um problema que se verifica hoje um pouco por muitos países, e Portugal não é exceção, a ponto de o jornalista Pedro Sales Dias, num artigo intitulado «A “pouca-vergonha” de Montenegro e a “bandalheira” de Ventura» (Público, 16/10/2025), referir o seguinte (mau) exemplo: «O Presidente dos EUA, Donald Trump, é um dos pioneiros da linguagem emocional e de taberna que tem contagiado os políticos de outros países [...]. Em Junho, comentando a frustração sentida quanto a uma solução na altura para o conflito entre Israel e o Irão, Trump dizia que "ambos os países estão a lutar há tanto tempo que já não sabem que merda estão a fazer"» (mantém-se a ortografia de 1945, seguida pela publicação citada).
7. Registos:
– de 16 a 18/10/2025, decorre na cidade da Praia (Cabo Verde) o XIII Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, este ano subordinado ao tema "Independência, Literatura, Inteligência Artificial" (mais informação no Observatório da Língua Portuguesa);
– nos dias 17 e 18/102025, na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Santarém, a 4.ª edição do Encontro Nacional sobre Discurso Académico (ENDA 4), que tem como tema "Transversalidade da língua: Descrição linguística e transposição didática".
– em 19/10/2025, o encerramento do Festival Literário Internacional de Óbidos, o Fólio 2025, que na mesa 15, pelas 17h00, conta com participação do escritor húngaro László Krasznahorkai (ver ponto 4 desta Abertura), a quem se juntam outros dois escritores, o português Rui Cardoso Martins e a americana Lionel Sheriver, para discutirem o tema da morte.
8. Em dois dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, a situação do português em Cabo Verde é tema de entrevista à linguista e docente universitária Nélia Alexandre:
– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 17/10/2025, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a especialista entrevistada refere-se ao estatuto de língua segunda que o português tem na sociedade cabo-verdiana.
– Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 19/10/2025, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 25/10/2025, às 15h30*), Nélia Alexandre fala das especificidades da aprendizagem e do uso do português em Cabo Verde. Participa ainda a professora Carla Marques, que dedica o seu apontamento gramatical semanal ao plural da palavra spa.