1. Como é sabido, situações novas constituem terreno fértil para a inovação lexical, nomeadamente com a criação de neologismos, os quais permitem nomear novas realidades. A situação política que se vive em Portugal é desta realidade um bom exemplo. Numa altura em que se desenham cenários relativamente ao que poderá vir a ser o novo mapa do exercício das funções parlamentares e governativas, há quem acuse a direita, que provavelmente virá a ser a detentora do poder, de pretender retomar o projeto "troikiano", que o último governo do PSD, conduzido por Pedro Passos Coelho, executava. Há também quem aponte como pouco construtiva a linguagem "chegana", que se associa ao discurso agressivo e, por vezes, excessivamente coloquial de alguns militantes do partido Chega. Ambas as palavras constituem neologismos formados por derivação a partir de um nome próprio pré-existente (Troika e Chega), ao qual se juntou o sufixo -ano, que associa à nova palavra o valor de «que é feito à maneira de». Fértil continua a ser também o terreno político para o recurso à linguagem metafórica. Deparámo-nos recentemente com expressões como: «chegar com pezinhos de lã», «preparar para a guerra», «utilizar a bomba atómica», «cálice amargo», «prova de fogo», entre outras que ilustram a criatividade linguística ao serviço da análise das perspetivas oferecidas pela realidade.
Primeira imagem: Parlamento português ou Assembleia da República
2. A identificação de uma forma feminina para referir certos cargos ou profissões nem sempre está prevista nos dicionários, aspeto que constitui o ponto de partida para a resposta relacionada com o nome subcomandante. A ela juntam-se, nesta atualização do Consultório, oito outras, que tratam questões de sintaxe («Modificador do grupo verbal: «O avô tinha o livro na estante», «Apostos especificativo e explicativo», «Orações completivas introduzidas por para»), de semântica («Garantir com indicativo ou conjuntivo»), de ortoépia («A pronúncia de berma»), de ortografia («Os grafemas rr e ss na translineação»), de lexicologia («O gentílico de Iucatão») e do âmbito da teoria gramatical («A distinção entre morfologia e sintaxe»).
3. A data de 19 de março coincide, em Portugal com o Dia do Pai. A palavra pai encontra-se em vários textos disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas, cuja leitura aqui se sugere: «Pai», «A etimologia das palavras pai e mãe», «Pai, merónimo de família, e família, holónimo de pai», «Pátrio, pátria e pai», «Pai e Mãe Nossa que estais no céu», «O pai-nosso», «Querido pai», «Maiúscula inicial em mãe e pai».
4. A identificação natureza da locução «por exemplo» dá matéria ao apontamento da professora Carla Marques (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
5. O uso incorreto do verbo desmarcar, num contexto em que se deveria ter usado a forma demarcar, é analisado pelo consultor do Ciberdúvidas Paulo J. S. Barata, neste apontamento disponível na rubrica Pelourinho.
6. Partilhamos, com a devida vénia, alguns textos de interesse linguístico e didático:
– Labrosta, calhordas, escanifobética são algumas das palavras que o tradutor Gonçalo Puga recorda num texto que alerta para o desaparecimento de muitos lexemas, que estão a deixar de constar do léxico ativo de muitos falantes.
– A palavra povo e os seus usos em diferentes contextos permitem o desenvolvimento de valores específicos, tal como regista o professor Paulo Guinote no seu artigo em torno das conotações políticas do lexema.
– A obra A crise da Narração, de Byung Chul Han, ilustra, na perspetiva da professora universitária Dora Gago, a atitude dos alunos que têm cada vez mais dificuldades em ouvir o outro, revelando uma crescente dependência dos conteúdos digitais.