1. Como sempre, os anglicismos são notícia em Portugal, e a mais recente diz respeito a um neologismo que vem sendo moda na imprensa e na comunicação financeira. Referimo-nos a fintech, definido num artigo do Jornal de Negócios deste modo: «[...] FinTech [é um] acrónimo utilizado para designar as empresas da chamada tecnologia financeira [...]» (ver também aqui). O estrangeirismo, que deve ocorrer em itálico ou entre aspas, é usado como nome comum, dispensando, portanto, as maiúsculas, tal como se faz neste título: «[...] Banca prepara-se para a entrada das fintech». Pergunta-se: não haverá maneira de exprimir o conceito sem o recurso (preguiçoso) ao inglês? Há, sim, podendo as línguas irmãs do português dar pistas capazes de potenciar uma terminologia mais vernácula. Assinale-se, então, que no contexto do espanhol, à procura de novas palavras mais de acordo com os padrões morfológicos desse idioma, a Fundéu BBVA (Fundación del Español Urgente) recomenda, e bem, os termos tecnofinanzas ou sector tecnofinanciero, em alternativa a fintech. Transpondo os exemplos da língua de Cervantes para a língua de Camões, acha-se um pequeno território de criatividade: tecnofinanças, setor (ou sector) tecnofinanceiro, (empresas) tecnofinanceiras... Porque não explorá-lo?
Na imagem, um quadro de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918): Pintura, c. 1913 (fonte: página do Museu Municipal Amadeo Souza-Cardoso, em Amarante).
2. As Controvérsias disponibilizam um apontamento da professora Isabel Casanova ainda propósito de uma querela recente (aqui, aqui e aqui) sobre as expressões «as Portuguesas e os Portugueses», em lugar da forma «os Portugueses», na referência aos dois géneros. No Pelourinho, outro contributo de Isabel Casanova, desta vez, sobre a impropriedade «sentado num balcão» (em vez de «sentado ao balcão») e a confusão do substantivo creche com a forma verbal cresce*. Finalmente, na mesma rubrica, Sara Mourato escreve sobre o barbarismo «as mais piores [derrotas]», sequência que só pode estar errada, dado a forma pior marcar por si só o grau comparativo, sem precisar do advérbio mais.
* No português de Portugal, as palavras creche e cresce são geralmente pronunciadas da mesma maneira.
3. No consultório, três novas perguntas: na perspetiva do Acordo Ortográfico de 1990, pode escrever-se "pêlo"? É legítimo empregar a locução «em tempo»? Qual o processo de formação de redemoinho?
4.O programa Língua de Todos de sexta-feira, 15 de abril (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 16 de abril, depois do noticiário das 9h00*), entrevista a professora Maria Helena Mira Mateus, que desmistifica a importância que às vezes se dá à ortografia. No Páginas de Português de domingo, 17 de abril (na Antena 2, às 11h30*), o professor Ivo de Castro fala da função do manuscrito autógrafo na história da língua, reportando-se ao legado de autores como Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós e Fernando Pessoa.
* Hora oficial de Portugal continental.
5. Finda mais uma semana com o serviço que aqui se presta à volta da língua portuguesa em toda a sua diversidade histórica e geográfica, permita-se-nos voltar ao apelo contido em SOS Ciberdúvidas. Sem outros apoios para a sua manutenção, só nos resta, de facto, o generoso contributo de quantos, por esse mundo fora, recorrem a este serviço gracioso e sem fins comerciais, sem paralelo no mundo da lusofonia, nos seu figurino de funcionamento. Os nossos agradecimentos antecipados.