1. Num mundo onde a globalização está na ordem do dia, muitos países sentem a invasão do que é "estrangeiro", tanto no plano material como no imaterial. A língua também não é alheia a estes movimentos, pois é muito permeável à entrada de palavras estrangeiras, sobretudo em setores inovadores, que já geraram inovação lexical numa língua fonte, como é frequentemente o caso do inglês, que tem influenciado de forma muito evidente diversas áreas do português. Fenómenos desta natureza têm motivado o aparecimento de correntes de nacionalismo linguístico, que, em casos desta natureza, defendem a proteção do idioma pátrio como forma de identidade e de afirmação. São estes mesmos nacionalismos que, noutras situações, advogam a causa da "libertação" da língua face a outra à qual se encontra subjugada. Uma manifestação deste último fenómeno tem surgido associada à variedade de português do Brasil pelas mãos de uma corrente que defende que, no Brasil, a língua usada já não é o português, mas sim o brasileiro, uma língua que evoluiu, autonomizando-se face ao português europeu, que tem uma norma e especificidades fonéticas, semânticas, lexicais e sintáticas distintas. Os defensores desta perspetiva afirmam que a intercompreensão entre portugueses e brasileiros se torna cada vez mais difícil e, nalguns casos, mesmo muito difícil, o que parece não ser um facto assente em muitas situações; e há quem rebata este ponto de vista, considerando que as diferenças não são de molde a poder falar-se de separação. A este propósito, recorde-se a experiência do tradutor e professor universitário Marco Neves (aqui relatada em vídeo). Recorde-se também a posição do primeiro-ministro português Luís Montenegro, que — tal como já antes o manifestara também o Presidente brasileiro Lula da Silva — reclamou o estatuto do português como língua oficial na ONU, só possivel, naturalmente, como sucede com o inglês, o francês, o espanhol, o mandarim, o russo e o árabe, independentemente das respetivas variantes geográficas. As manifestações de nacionalismo linguístico têm gerado fortes reações um pouco por todo o mundo lusófono, no pressuposto de ser na unidade da língua portuguesa que assenta uma eficaz estratégia de política linguística para a sua afirmação e difusão nternacional. Recentemente, o escritor José Eduardo Agualusa veio também manifestar a sua preocupação com a ascensão do fenómeno e com as suas implicações, numa entrevista dada ao jornal digita Observador, na qual apresentou o seu novo romance, Mestre dos Batuques, com a chancela da Quetzal (disponível aqui, com a devida vénia).
A este propósito, recordamos alguns textos disponíveis no acervo do Ciberdúvidas: «O português de Portugal está ficando mais brasileiro?», «A língua e os seus proprietários», «Como se ensina uma língua pluricêntrica?», «O que queremos desta língua?», «O brasileiro já é a língua do Brasil?». Nota ainda para a polémica recente desencadeada pela entrevista do jornalista brasileiro Sérgio Rodrigues ao jornal Expresso, que motivou reações como a do jornalista Miguel Sousa Tavares.
2. A identificação da função desempenhada pelo pronome relativo que é um dos aspetos que oferecem dificuldades aos alunos no âmbito do estudo da sintaxe. Abrimos a atualização do Consultório com o esclarecimento relativo aos processos que permitem identificar as situações em que o pronome tem a função de complemento direto. Poderão também ser consultadas várias respostas de âmbito sintático: a sintaxe de «cair no esquecimento», a colocação do clítico em «bons olhos o vejam», a regência do verbo importar-se e as construções com o verbo retaliar. No plano semântico-lexical, esclarecemos as dúvidas relacionadas com a forma registrar e as diferenças entre lembrar e relembrar. Ainda um esclarecimento sobre algumas formas de tratamento e sobre o conceito de géneros digitais.
3. A consultora Inês Gama apresenta um apontamento sobre as palavras elegível e ilegível, as quais estabelecem relações de dissemelhança no plano gráfico, mas são frequentemente articuladas da mesma forma, uma vez que tradicionalmente muitos ee átonos e a começar palavra (pré-tónicos) tendem a ser pronunciados como [i] (apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).
4. Entre os acontecimentos de relevo, destacamos os seguintes:
– Lançamento do romance À Procura dos Rinocerontes Perdidos, da autoria de Fernanda Melo Alves, nas edições Cordel de Prata (notícia);
– Festival Fólio, uma edição subordinada ao tema "Inquietação", que decorrerá em Óbidos, entre 10 e 20 de outubro (mais informações);
– A atribuição do Prémio Literário António Gedeão 2024 para a poesia a Rui Lage, com a obra Firmamento, da Assírio & Alvim (notícia).