1. O conflito entre Israel e a Palestina continua a subir de tom, revelando uma total indiferença aos pedidos de paz oriundos de muitos pontos do planeta e também à pressão exercida pelos próprios povos palestiniano e israelita. Neste contexto, assinalamos um novo neologismo para descrever um dos alvos dos ataques israelitas: a destruição de universidades e escolas em território da Palestina. Todas as 11 universidades de Gaza foram destruídas no decurso das investidas israelitas, o que deixou cerca de 90 mil palestinianos sem acesso à educação superior. Esta realidade é descrita pelo conceito de "escolasticídio", palavra cunhada pela jurista e professora palestiniana Kelma Nabulsi, em 2009, para descrever a destruição sistemática do sistema de educação material e imaterial em Gaza e na Cisjordânia pelo Exército de Israel. Este termo é decalcado do inglês scholasticide, que, por seu turno, é uma palavra resultante da junção da forma truncada scholasti(c) ao elemento pospostivo -cide (-cídi(o), em português). Trata-se, assim, de uma palavra resultante de uma amálgama, um processo irregular de formação de palavras, que permitiu combinar o sentido de "escola" ao de «ação de matar ou de quem mata». Encontramos o mesmo decalque em espanhol (escolasticidio) e em francês (scholasticide). Já em italiano, usa-se também o termo educidio, cujo elemento inicial é a forma truncada de edu(c)- (que significa «cuidar, educar, instruir»).
A propósito da situação palestiniana e outros conflitos armados pelo mudo fora, registem-se ainda cinco neologismos: culturcídio (destruição de uma cultura, especialmente aquela exclusiva de um grupo étnico, político, religioso ou social específico), ecocídio (destruir o meio ambiente – termo cunhado em 1970 pelo professor de biologia Walter W Galston, protestando contra o uso do herbicida tóxico Agente Laranja pelos EUA no Vietname para destruir o crescimento de plantas sob as quais os vietcongues se escondiam), educídio (assassinato sistemático de académicos e intelectuais, ou o genocídio da educação, de acordo com a académica britânica Rula Alousi), genocídio (assassínio deliberado de um grande número de pessoas de uma determinada nação ou grupo étnico com o objetivo de destruir essa nação ou grupo), politicídio (ocorre quando um ator poderoso trabalha para executar politicamente as esferas pública e privada do seu inimigo.) e urbicídio (termo criado na década de 1960 para descrever a destruição deliberada de uma cidade).
Cf. Genocídio, urbanicídio, domicídio – como falar sobre a guerra de Israel em Gaza + Domicídio, enantiossema, dorama, blogodesenvolvido e o português em Macau
Primeira imagem: Universidade Al-Azhar de Gaza antes e depois de Israel bombardear a instituição. Imagem publicada na revista Jacobina. Segunda imagem: Universidade Islâmica na Cidade de Gaza em novembro. (Foto de Omar El-Qattaa / AFP via Getty Images)
2. Entre os processos irregulares de formação de palavras encontramos também a formação de siglas ou de acrónimos. Esta é uma questão abordada neste apontamento da professora Carla Marques com base na explicação da formação da palavra ONU (divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2).
3. Na atualização do Consultório, analisam-se as relações existentes entre palavras, de modo a determinar, por um lado, se a junção de mais a além gera uma redundância e, por outro, se gigante é sinónimo de gigantesco. Analisa-se também a natureza e o funcionamento de palavras ou locuções como «durante que», «apenas», «em lugar de/ em vez de / ao invés de» e «sempre». Disponibiliza-se ainda uma resposta sobre a correção das construções «de cima até abaixo» e «de cima até embaixo» e «o livro fala de». Por fim, tratam-se os valores do condicional simples e composto e explica-se o significado do provérbio «vencer a língua é mais que vencer arraiais».
4. A opção pelo masculino para designar profissões desempenhadas por mulheres fornece matéria para a reflexão do cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa José Mário Costa, que, no Pelourinho, aponta o caso do uso de capitão em lugar de capitã, em contexto militar, no qual se verifica uma grande resistência à adoção das formas femininas dos nomes de cargos e profissões.
5. Continuamos a divulgação dos textos integrantes do dossiê temático relativo ao papel da língua portuguesa na construção da identidade cabo-verdiana, da autoria da professora universitária Goreti Freire, com um texto onde aborda o papel da língua cabo-verdiana e da língua portuguesa no arquipélago.
6. A situação da língua portuguesa na relação entre as diferentes variedades e no que respeita à produção editorial motiva uma nova reflexão crítica sobre o papel do Acordo Ortográfico (AO90), apresentada pelo jornalista Nuno Pacheco (publicada no jornal Público e aqui partilhada com a devida vénia).