A frase (1) apresentada pelo consulente tem o verbo no condicional simples (segundo a terminologia portuguesa) ou futuro do pretérito (segundo a terminologia brasileira), ao passo que na frase (2) o verbo está no condicional composto (segundo a terminologia portuguesa) ou futuro composto (segundo a terminologia brasileira). Estes não permutam, ou seja, não são sinónimos. Repare-se que as frases (1) e (2) quando integradas no discurso indireto apresentam valores diferentes:
(1) Ele perguntou onde é que ele iria.
(2) Ela perguntou aonde é que ele teria ido.
Em (1), iria refere um estado de desconhecimento sobre um evento simultâneo ao momento da pergunta. Já em (2), «teria ido», o desconhecimento é relativo a um evento ocorrido antes do momento da pergunta.
O condicional simples pode ter um valor temporal de “Futuro do Passado”, ou seja, localizando uma situação no passado, mas que ocorreu num tempo posterior a outra situação também passada, como exemplificado em (3). Este uso do condicional, tal como assinala Fátima Oliveira em Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian), é pouco usual na fala e escrita correntes.
(3) Depois da batalha, aquele cavaleiro seria proclamado herói.
O condicional simples pode também ocorrer em situações cujo pretérito imperfeito (P.I.) do indicativo também é possível, isto é, pode em certos contextos ser substituído pelo P. I. do indicativo. Neste sentido, o condicional simples pode ser usado para exprimir situações cuja realização está dependente de uma condição, como em (4), desejos, como em (5), pedidos em forma de cortesia, como em (6) e sugestões, como em (7).
(4) «Gostaria de convidar a Ana para o jantar, mas ela está fora nessa semana.»
(5) «Quereria tanto não ter de ir trabalhar amanhã!»
(6) «Poderia dizer-me que horas são, por favor?»
(7) «Deveríamos limpar estar sala, assim fica mais organizada, não achas?»
Já o condicional composto é formado pelo verbo auxiliar ter no condicional simples e pelo particípio do verbo pleno, como acontece na frase (2) indicada pelo consulente. Este tempo tem, tal como indica Fátima Oliveira, uma leitura modal ou contrafactual, ou seja, serve para exprimir dúvida ou incerteza relativamente a factos passados, como em (8) e em frases interrogativas quando se tenciona exprimir desconhecimento sobre factos passados, como em (9). Também pode veicular uma leitura temporal, que, «no entanto, aparece em pano de fundo relativamente à interpretação modal» (pág. 533). Nesta perspetiva, o condicional composto serve também para exprimir situações que não se realizaram no passado, porque a condição de que dependiam não se verificou, como em (10.)
(8) «Ontem o João não apareceu na reunião, teria estado doente.»
(9) «O que teria originado aquele acidente? Parece que ninguém sabe ao certo as suas causas.»
(10) «Teria encontrado a Ana no escritório, se tivesse chegado mais cedo.»