1. Faleceu no dia 13 p.p. Alípio de Freitas (Bragança, 1929 – Lisboa, 2017) – Alípio Cristiano de Freitas, de seu nome completo. Símbolo maior da resistência à ditadura militar do Brasil, estava radicado em Portugal desde 1984, onde foi jornalista na RTP e ativista de um sem-número de iniciativas de natureza político-social. De vasta cultura e para quem a língua portuguesa foi sempre tratada com esmero e um particular talento, fosse como orador ou no registo escrito – fruto da sua sólida formação clássica de antigo sacerdote católico –, muito lhe fica tributário o Ciberdúvidas. Foi graças a ele que o Ciberdúvidas não só encontrou as indispensáveis condições logísticas, em instalações cedidas então pela Universidade Lusófona, para a sua continuação, após o súbito falecimento de João Carreira Bom, como contou sempre com o seu generoso apoio, até ao fim dos seus dias. Fica-nos a eterna saudade, e a gratidão, deste Homem, com H grande, e a dimensão como pessoa que tanto tocou quantos com ele privaram em vida. E que, por isso, não quiseram deixar de manter o concerto-homenagem marcado para este sábado, dia 17 de junho, no Fórum Lisboa, às 21h30.
2. O verbo ser e o verbo ir têm formas iguais no pretérito perfeito do indicativo – fui, foste, foi, etc. – e noutros tempos verbais (mais-que-perfeito do indicativo, bem como no imperfeito e no futuro do conjuntivo). Como se explica que verbos tão diferentes na significação venham a identificar-se morfologicamente? A questão, levantada pelo filósofo português Fernando Belo, foi pretexto para Gonçalo Neves elaborar para O Nosso Idioma um interessante apontamento de gramática histórica.
3. No consultório, deixamos disponíveis respostas sobre o uso de mãe como elemento de composição (instituição-mãe), o brasileirismo treita, o presente do indicativo com valor genérico («os tigres são animais ferozes») e o coloquialismo português "tá-se".
4. Desde o dia de ontem, 15 de junho, chegaram ao fim os custos para comunicar por telefone no território comum dos 28 países da União Europeia, mais conhecidos pelo anglicismo roaming. Como poderia ser designado em português este «serviço de um operador que permite a utilização de uma rede móvel no estrangeiro» (in dicionário Priberam)? Itinerância é o termo mais consensual. Além da sua vantagem vernacular, no mesmo sentido são as propostas noutras línguas românicas, com formas homólogas em alternativa à palavra inglesa. Por exemplo, em espanhol, a Fundación para el Español Urgente (Fundéu BBVA) recomenda itinerancia; e em francês, diz-se e escreve-se itinérance (cf. Office Québécois de la Langue Française).
5. Na rubrica Acordo Ortográfico, disponibilizam-se três novos contributos para o debate da questão ortográfica em Portugal:
– a declaração que Mário Vieira de Carvalho, professor catedrático jubilado de Sociologia Musical e sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa (ACL), dirigiu a esta instituição, recomendando-lhe que não tome «uma posição negativa quanto ao processo iniciado com o Acordo Ortográfico de 1990»;
– uma reflexão de D'Silvas Filho sobre o papel que a ACL tem desempenhado no processo de aplicação da nova ortografia.
– e, em sentido contrário, o artigo de Francisco Miguel Valada "Sobre a 'opinião dos linguistas', a arrogância, a ignorância e a continência" (in jornal Público de 14/06/2017).
6. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, são temas em foco:
• a língua portuguesa e a globalização, numa conversa com o professor universitário português Pedro Gomes Barbosa, no Língua de Todos – na sexta-feira, dia 16 de junho, às 13h15*, na RDP África, com repetição no sábado seguinte, depois do noticiário das 09h00*;
• o recém-publicado livro Nova Peregrinação por Diversificadas Latitudes da Língua Portuguesa e o seu autor, Fernando Cristóvão, no Páginas de Português – no domingo, dia 18 de junho, na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 24 de junho, às 15h30*.
* Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.