Classificado como brasileirismo, treita pode constituir uma variante de treta, mas não se exclui que seja palavra portuguesa patrimonial de origem latina, com um percurso divergente.
Considerando que em muitos dialetos brasileiros o ditongo ei tende a monotongar-se como e, pode registar-se a tendência contrária, ao interpretar como ditongo uma vogal que nunca o foi. Por outras palavras, numa região onde se diz "manêra", em vez de "maneira", é possível que, por analogia com vocábulos como direita ou maleita, os falantes comecem a interpretar a vogal fechada como supostos ditongos; seria este o caso de treta, que não incluindo historicamente o ditongo ei passou a tê-lo por restituição etimologicamente injustificada1.
Contudo, há que prestar igual atenção à etimologia de treta, «destreza no jogo da esgrima» e, por extensão de sentido, «ação que se vale de astúcia; ardil, estratagema, manha». Segundo o Dicionário Houaiss, este vocábulo tem origem no castelhano treta, por sua vez adaptação do francês traite, do feminino substantivado do particípio passado de tractus, a, um, de trahĕre, «tirar, puxar, arrastar, mover, rolar, levar de rojo, atrair, etc.»
Refira-se, porém, que este brasileirismo tem um homónimo relacionado com a atividade agrícola. Com efeito, o Dicionário Houaiss regista treita – do latim tracta, com a mesma etimologia que a referida forma traite, do francês –, nas seguintes aceções: «pegada ou marca deixada por homem ou animal nos caminhos por onde passa; rastro, pista», «nesga de terra; belga» (regionalismo português da Bairrada); «cada uma das faixas de terra lavrada, separadas por marcação de galhos, para facilitar a semeadura» (regionalismo do Minho); e, em sentido figurado, «o que pode ou deve ser imitado; exemplo, modelo».
1 N. E. (atualização em 16/06/2017) – Na sequência de observações do consultor Luciano Eduardo de Oliveira, o autor concordou em alterar os dois primeiros parágrafos. Em lugar da hipótese inicialmente proposta, de treita ser variante de treta por hipercorreção (dada a tendência de os dialetos brasileiros monotongarem o ditongo ei), sugere-se que a forma ditongada tenha surgido por analogia. Na verdade, se, entre falantes brasileiros, o ei perde a semivogal antes de r ("dinhero") ou antes de segmento palatal ("pexe", "bejo"), os estudos de variação registam geralmente a sua conservação antes de t: respeito, jeito, receita. Sendo assim, talvez treta tenha sofrido alteração não por hipercorreção – supondo que ei se reduziria mesmo antes de t, hipótese que não parece segura –, mas, sim, por analogia com palavras que internamente apresentam o ditongo antes dessa consoante. Note-se ainda que o Dicionário UNESP do Português Contemporâneo apresenta treiteiro como variante de treteiro, «que/quem é dado a tretas».