«(...) Já lá vão cinco anos, o tempo suficiente para transformar o Ciberdúvidas num serviço de utilidade pública com reconhecimento em todo o espaço lusófono. (...)»
O que é o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa? Talvez o leitor não saiba, mas milhares de falantes de Português de todo o espaço lusófono consultam-no diariamente, propondo-lhe e recebendo explicação para as suas dúvidas. Dúvidas e perguntas que vão para além da língua e entram pela história, pela geografia, pelos usos e costumes, pela música e até pelo futebol.
Como o seu nome sugere, Ciberdúvidas é, portanto, um espaço na Internet à disposição dos navegadores do ciberespaço interessados num maior conhecimento da Língua Portuguesa e das culturas de que ela é instrumento e veículo.
O Ciberdúvidas, como todas as coisas simples, aparece hoje como um verdadeiro ovo de Colombo. Claro que um espaço como este teria que existir. Mas nunca ninguém se lembrou disso. Nem a Academia de Ciências de Ciências de Lisboa, nem a Sociedade de Língua Portuguesa, nem o Instituto Camões, nem o Ministério da Educação ou qualquer outra instituição, pública ou privada, com responsabilidades na divulgação da Língua Portuguesa. Foi necessário que o jornalista José Mário Costa tivesse a ideia e a propusesse a outro jornalista, o João Carreira Bom, já falecido, que garantiu os meios materiais necessários para que ela se transformasse em realidade. Já lá vão cinco anos, o tempo suficiente para transformar o Ciberdúvidas num serviço de utilidade pública com reconhecimento em todo o espaço lusófono.
O desaparecimento infausto e inesperado de João Carreira Bom ameaçou a continuidade do projecto, chegando a temer-se o pior. Felizmente para os amantes da Língua Portuguesa e das culturas da lusofonia, o Ciberdúvidas dobrou o cabo das tormentas e navega hoje a todo o pano, num mar tranquilo a caminho de um futuro que, aquando do seu início, era difícil prever-lhe. A Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias acaba de celebrar com ele – Ciberdúvidas – um protocolo de cooperação que, além de acolhê-lo nas suas instalações, lhe alarga extraordinariamente o horizonte, pondo ao seu alcance as variadas competências científico-culturais de que dispõe.
O Ciberdúvidas que, até hoje, pela sua própria dimensão, responde quase só a questões referentes à Língua Portuguesa, pode agora, com a parceria da Universidade Lusófona, aventurar-se noutras áreas do conhecimento tais como as ciências humanas e as áreas tecnológicas. Pelo Ciberdúvidas podem agora passar a Sociologia, a Psicologia, a Filosofia, a Ciência das Religiões, o Direito, o Desporto, a Arquitectura, o Urbanismo, o Turismo, a Política, a Literatura, a Biologia, enfim tudo aquilo que são valências da Universidade Lusófona, nas mais diversas áreas quer das Humanidades, quer das Tecnologias. É como se o Ciberdúvidas tivesse terminado o curso preparatório e entrasse na Universidade. Conhecendo bem os novos e os primeiros intervenientes deste projecto, o que eu possa dizer agora é que «Roma e Pavia não se fizeram num dia». Mas fizeram-se. Com tempo, trabalho e determinação.
Hoje, a Universidade Lusófona e o Ciberdúvidas dividem a responsabilidade de transformar esse espaço num instrumento imprescindível na construção da Lusofonia. A Universidade Lusófona e o Ciberdúvidas estão para a sedimentação da Lusofonia como o povo das navegações, do comércio, dos amores, da mestiçagem, do trabalho, da fortuna ou da desventura que, ao longo de quinhentos anos, abriu caminhos e marcou fronteiras, para a criação do mundo lusófono.
Artigo do autor na revista da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em 31/10/2002, a propósito da celebração do protocolo que permitiu ao Ciberdúvidas as condições logísticas indispensáveis para a sua continuidade, após o súbito falecimento do jornalista João Carreira Bom, graças a quem fora possível a sua existência, desde que fora criado cinco anos antes.