1. A segunda vaga de covid-19 está a ser marcada pelo crescimento acelerado do número de infeções, o que provoca no cidadão comum e nos líderes políticos manifestações de consternação visíveis nas atitudes, decisões e também na linguagem. A metáfora, um processo retórico-linguístico que tem andado muito ligado à pandemia, voltou a ser usada neste contexto, desta feita pelo ministro da Saúde da Bélgica, que se referiu a um «tsunami de infeções». Esta é uma das cinco novas entradas no A covid-19 na língua, a par de adenovírus humano, corrupção, vacinar e vírico. No contexto do avanço dos estudos relacionados com o vírus SARS-CoV-2, voltamos a encontrar, na comunicação social, as expressões «evidência clínica» ou «evidência científica», que já aqui se desaconselharam, sendo preferível o recurso a expressões como «prova científica / clínica».
A presença de metáforas no discurso em torno da pandemia foi já objeto de reflexão em diversos textos divulgados no Ciberdúvidas. Por exemplo: «Das linhas de trincheira ao olho do furacão», «A nossa casa e as portas que se fecham e se abrem» ou «Dos caminhos da pandemia às doenças da sociedade».
2. A mais recente publicação do professor universitário e tradutor Marco Neves intitula-se Pontuação em Português – Guia prático para escrever melhor (Edições Guerra e Paz). Esta é uma obra que «condensa as regras básicas da pontuação em português», agora apresentada na Montra de Livros. Também nesta rubrica se divulga a tese de doutoramento do professor universitário brasileiro José António Pires de Oliveira Filho, sobre o escritor goês Júlio Gonçalves (1846-1896).
3. No Consultório, analisa-se, numa nova resposta, a etimologia da forma tomara e procura-se uma explicação para a origem do topónimo Morçoas (Alhos Vedros, Portugal). No campo da sintaxe e da significação, determina-se o sentido do verbo alcançar, usado numa frase de O Alienista, de Machado de Assis, e a diferença entre «fazer tudo» e «fazer de tudo». Por fim, apresenta-se a análise sintática de uma frase complexa.
4. O recente encontro futebolístico entre as seleções fde França e de Portugal propiciou um curioso "desentendimento" linguístico. Foi quando, no lançamento prévio do jogo, o selecionador gaulês empregou o termo revanche – traduzido livremente como vingança. Mal traduzido, pois o sentido certo do termo em desporto é desforra, como bem lembrou Didier Deschamps, Estas são as palavras que motivaram a crónica da professora Carla Marques, emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, do dia 18 de outubro de 2020, que pode ser lida aqui.
5. Portugal e a Noruega estão a desenvolver um projeto conjunto de criação de um dicionário europeu sobre mamíferos marinhos. Este léxico marinho pretende incorporar «nomes comuns de mamíferos marinhos (cetáceos, focas e leões marinhos e sirénios) e também de elementos representados no início da época moderna (monstros marinhos, seres híbridos e elementos de folclore)», pode ler-se na apresentação do projeto.
6. A história partilhada pelas aldeias fronteiriças de Portugal e de Espanha é feita de muitos episódios de natureza política, social e até individual. A língua e os dialetos não são indiferentes à localização geográfica dos povos que as falam, mas não conhecem fronteiras ou alteração dos factos políticos. É o tempo que burila as línguas e que as aperfeiçoa ou as condena ao desaparecimento. O português oliventino, dialeto tradicional de Olivença e de Talega, é disso um bom exemplo. Este é um património imaterial que, com a passagem de Olivença para as mãos de Espanha, se foi gradualmente perdendo, devido a diversos fatores que o autor Rubén Baéz analisa no artigo «Olivença: a capitulação incumprida», que transcrevemos, com a devida vénia, em Diversidades.
7. Ente as notícias relacionadas com a língua e a lusofonia, destacamos:
— A nomeação da cabo-verdiana Cristina Duarte para conselheira especial para África da ONU;
— A 2.ª edição do projeto Estudo em Casa, que teve início em 19 de outubro de 2020, com particular incidência no ensino básico; a transmissão das aulas continuar a ter lugar na RTP Memória, das 09h00 às 16h30;
— A manutenção da Direção-Geral para a Promoção da Língua Portuguesa na Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura;
— A mesa-redonda «O tradutor e a retradução: a ansiedade da influência», com lugar pelas 15h00 do dia 27 de outubro de 2020, na Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa.
8. Uma nota final para referir o falecimento da escritora e jornalista Helena Marques, aos 85 anos. Deixa seis obras editadas e um percurso de 36 anos de jornalismo, tendo passado por vários jornais portugueses. Recebeu diversos prémios, entre eles o mais recente, o Prémio Gazeta de Mérito, atribuído em 2013.