Considera-se geralmente que tomara é a 3.ª pessoa do singular do pretérito mais-que-perfeito do indicativo verbo tomar.
Contudo, não é de excluir que tomara, como fórmula impessoal, possa ter origem árabe, em atámm alláh, forma do árabe hispânico (andalusi) que significa «cumpra Deus». Nesta perspetiva, trata-se de um caso curioso de convergência de uma fórmula arábica com um verbo românico não originário do latim, mas talvez do germânico2.
É de supor o uso impessoal seguido de oração finita («tomara que possas...») ou de oração de infinitivo («tomara tu poderes...») seja anterior ao uso pessoal de tomara («tomaras tu poder...». Com efeito, uma consulta da secção histórica do Corpus do Português não faculta claros exemplos da flexão de tomara antes do século XIX.
1 Cf. Federico Corriente, Diccionario de Arabismos (Madrid, Editorial Gredos, 2003, s.v. tomara).
2 Segundo a nota etimológica que o Dicionário Houaiss (2001) dedica a tomar, é este um verbo de «origem obscura», que «[os dicionários] Michaelis e Caldas Aulete derivam de um [verbo] saxão tomian» (o saxão constitui um dos sub-ramos do ramo germânico da família indo-europeia). Outra visão têm Joan Coromines e José Antonio Pascual, que no Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Hispánico (Madrd, Editorial Gredos, 2012, edição em CD-ROM), consideram que é verosímil filiar tomar no latim AUTŬMARE,«afirmar», no sentido de «proclamar alguém o seu direito a um objeto», acrescentando que, em lugar de AUTUMARE, se diria *TŬMARE no latim hispânico.