«Não desistir, apelar ao uso do uso do português, convencer e se for necessário legislar!»
O que têm em comum a tarja "We are back", exibida no estádio do Sporting durante o jogo com o Moreirense (22 de setembro), o evento "Beato Innovation District" (fevereiro 2025) ou a apresentação por António Costa da aplicação "Stayaway Covid" (2 de setembro de 2020)?
Embora com diferenças enormes entre os autores, todos usam a língua inglesa para transmitir uma mensagem a destinatários que são maioritariamente portugueses. Estes são apenas alguns exemplos do ataque progressivo e insidioso ao nosso património comum, a língua portuguesa.
O problema é que tenho a sensação de a maioria das pessoas achar isto normal. Eu não!
Talvez não adiantasse nada que a aplicação tivesse o nome português, e bem podia ser «Desanda Covid» ou, mais delicadamente, «Afasta-te Covid por favor», mas é a opção por uma língua estrangeira que é sintoma de algo errado que se está a passar com o uso da nossa língua.
Ficamos comovidos quando lemos ou ouvimos que em partes remotas da Malásia ainda há comunidades a falar português, ou aparecem referências a palavras portuguesas que os japoneses têm no seu léxico. O amor à nossa língua obriga também a que mostremos indignação pelo desprezo a que muitos compatriotas lhe dedicam no presente.
Um outro sinal da dimensão da incúria e abandono, a que está votado o uso do português, vem de um dos maiores concelhos do país, no qual a marca “Oeiras Valley” prevalece, relegando para plano subalterno as designações de Município ou Câmara.
Infelizmente a Academia segue o mesmo rumo. Os dois polos universitários no mesmo concelho, um chama-se Tagus Park e o da Universidade Nova dá pelo nome de Nova School of Business and Economics, com os seus eventos noticiados sob o antetítulo genérico “What’s happening”.
Alguns amigos, com quem partilho estas preocupações, dizem-me que é uma batalha perdida. Lembro-me então do poema e da canção onde se diz «Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não». Com saudade recordo outro amigo, que tinha esse espírito resistente. Há cerca de duas décadas, ousou interpelar um governante que discursava sobre as virtudes do "short sea shipping" e perguntou-lhe «Por que não diz cabotagem, que é uma palavra portuguesa para isso?» (cito de cor).
Não desistir, apelar ao uso do uso do português, convencer e se for necessário legislar! E certamente já há legislação sobre a utilização de designações em português em organismos do Estado.
Enfim!
Se não tivermos sucesso nesta campanha, talvez daqui a alguns anos se diga "uotéver", mas ao menos que seja com a grafia portuguesa…
Apontamento da página de Facebook (30/09/2025) de Rui Henriques.