Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de autores lusófonos sobre a língua portuguesa, de diferentes épocas.

«Um povo que deixa o seu idioma degradar-se, aceitando todo o tipo de estrangeirismos, contributos desnecessários, em breve estará de joelhos.» Extrato do livro Milagrário Pessoal, de José Eduardo Agualusa.

A nós interessam-nos as palavras novas, disse eu. lara trabalha com neologismos. Selecciona os neologismos que devem ser dicionarizados.

Alexandre Anhanguera estremeceu, trocou um rápido olhar com Plácido Domingo.

Poema que aqui se regista, como evocação dos 750 anos do nascimento de D. Dinis, o rei-trovador enaltecido por Ferna...

O génio da língua é a essência espiritual emanada dos seus vocábulos intraduzíveis, que se pode sintetizar numa expressão mais ou menos definida.

Na língua portuguesa há um certo número de palavras altamente expressivas do que a nossa sensibilidade possui de mais íntimo e característico, e, por isso, sem equivalentes nas outras línguas.

Mas conhecemos ainda uma célebre palavra animada pelos dois princípios religiosos que definem a alma pátria.

A poetisa portuguesa
Sophia de Mello Breyner
gostava de saborear
uma a uma
todas as sílabas
do português do Brasil.

Estou a vê-la:
suave e discreta,
debruçada sobre a varanda do tempo,
o olhar estendendo-se com o mar
e a memória,
deliciando-se comovida
com o sol despudorado
ardendo
nas vogais abertas da língua,
violentando com doçura
os surdos limites
das consoantes
e ampliando-os
para lá da História.

Mas saberia ela
quem rasgou esses limites,
com o seu sangue,
a sua resistência
e a sua música?

Madre língua portuguesa,
Sombra dos coros divinos;
— Milagre da naureza:
De rouca e surda rudeza
Erguida em sons cristalinos!

[...]

Alta espada de dois gumes,
Castelo das cem mil portas:
Língua viva, que resumes
— Rescaldo de ttantos lumes! —
O génio das línguas mortas...

[...]

Ai de mim! Para louvar-te,
Chovessem na minha mão
Estrelas de toda a parte;
Fosse um trovão a minha arte;
Fosse a minha alma um vulcão!

Eu amo tanto a nossa língua, esta nossa querida língua portuguesa! — fidalga de nascença pelos pais, cedo emancipada e logo rica, modesta no aspecto, dada no trato, grave no som, sóbria na tinta, gentil de linhas, e por ser desembaraçada de partículas inúteis, precisa nos conceitos, rápida nas máximas, evidente nos contrastes; e ao mesmo tempo cândida para bucólicas, terna para lirismos, altiloqüente nas estrofes das epopéias sonorosas, esquiva no diálogo curto, avolumada no discurso lento, s...


Cantei nos Cantares de Amigo,
cantando, a Pátria nasceu;
Portugal floriu comigo
quando a poesia cresceu.

Ai flores, ai flores dos Cancioneiros,
oh graça e sorriso dos poemas primeiros!

Ondas do mar me embalaram,
tanto andei a navegar,
que nos meus ritmos ficaram
íris e longes do mar. <...

Aquelle Manuel do Rego
É rapaz de tanto tino
Que em lirio põe sempre y grego,
E em lyra põe i latino!
E como a gente diz ceia
Escreve sempre ceiar;
Assim como de passeia
Tira o verbo passeiar!
Nunca diz senão peior
Não só por ser mais bonito,
Mas porque achou num auctor
Que deriva de sanskrito.
Escreve razão com s,
E escreve Brasil com z:
Assim elle nos quizesse
Dizer a razão porquê!
Também como diz — eu soube
Julga que eu poude é correct...

Crónica da escritora brasileira Clarice Lispector (1920-1977) , incluída no livro A Descoberta do Mundo, editado postumamente, em 1984.

Nunca o Silvestre tinha tido uma pega com ninguém. Se às vezes guerreava, com palavras azedas para cá e para lá, era apenas com os fundos da própria consciência. Viúvo, sem filhos, dono de umas leiras herdadas, o que mais parecia inquietá-lo era a maneira de alijar bem depressa o dinheiro das rendas. Semeava tão facilmente as economias, que ninguém via naquilo um sintoma de pena ou de justiça — mesmo da velha —, mas apenas um desejo urgente de comodidade. Dar aliviava. (...)