Madre língua portuguesa - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Madre língua portuguesa

Madre língua portuguesa,
Sombra dos coros divinos;
— Milagre da naureza:
De rouca e surda rudeza
Erguida em sons cristalinos!

[...]

Alta espada de dois gumes,
Castelo das cem mil portas:
Língua viva, que resumes
— Rescaldo de ttantos lumes! —
O génio das línguas mortas...

[...]

Ai de mim! Para louvar-te,
Chovessem na minha mão
Estrelas de toda a parte;
Fosse um trovão a minha arte;
Fosse a minha alma um vulcão!

Os berços de toda a infância
Rolassem na minha voz;
E a sepulcral ressonância
Do mistério e da distância
Na campa dos meus avós.

Houvesse, nela, o marulho
De oceanos em tufão;
O Sol de olímpico orgulho;
Ou os celeiros de julho,
Contados de grão a grão.

Ouvi! — A língua é a bandeira
Da Pátria que reza e canta:
Bendito quem, — entre tanta  
De altiva cor estrangeira, —
À luz do Sol a levanta!

Ó povo! Defende-a, pura
De ódio, inveja e negra ideia;
Veste-a na graça e candura
Do  teu linho, — sem mistura
De falsa púrpura alheia.

Fonte
in Na Hora Incerta (Viriato Lusitano), 1920

Sobre o autor

António Correia de Oliveira (São Pedro do Sul, 1879 – Antas, 1960), foi um poeta português. Estudou no Seminário de Viseu e trabalhou como jornalista no Diário Ilustrado em Lisboa. Poeta neogarrettista, foi um dos cantores do Saudosismo. Destacam-se algumas das suas obras: Aljubarrota ao Luar (1944), Redondilhas (1948), Azinheira em Flor (1954).