Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de autores lusófonos sobre a língua portuguesa, de diferentes épocas.
Perguntas à língua portuguesa*
Por Mia Couto

«Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique.»

[texto escrito especialmente para o Ciberdúvidas, na sequência dos contributos do angolano Pepetela, do cabo-verdiano Germano Almeida, do guineense Carlos Lopes e do português José Saramago.]


não és mais do que as outras, mas és nossa,
e crescemos em ti. nem se imagina
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.
mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia a dia te assassina.
mostras por ti o que lhe vais fazer:
(...)

O quimbundo é maneiro? *

 O número crescente de habitantes nas cidades, a alfabetização mais ampla e o envolvimento do território pela mídia eletrônica colocam a língua portuguesa do Brasil diante de novos dilemas. Não se trata da recente querela sobre a unificação ortográfica do Brasil e de Portugal. Na realidade, o embate entre o português d'aquém e d'além-mar rola há muito tempo no interior do nosso próprio país.

 

   Na sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras, em 1897, Machado...

O petróleo do século XXI
A vitalidade da língua portuguesa nos PALOP

«Em época de afirmação, os Estados saídos das ex-colónias encontram na língua, na literatura, a grande revelação da sua identidade», considera o jornalista português Fernando Dacosta

Foi na estrada entre Oeiras e o Cacém, mais precisamente por alturas de Leceia, que senti esta angústia e fiz esta reflexão: será que os nossos trinetos conseguirão falar e escrever o Português sem terem de frequentar um curso de línguas mortas?

Uma língua que aceita brincadeiras*
Por Pepetela

«Quando pensamos numa língua muitas vezes a vemos da forma sisuda que na escola nos ensinaram a encará-la, com aquelas regras chatíssimas de gramática que parecem talhar um fato apertado que a sufoca. Afinal essas regras podem não ser tão antigas assim e dependem das brincadeiras que fazemos com a língua.»

[Texto do escritor angolano Pepetela escrito especialmente para o Ciberdúvidas, na sequência dos contributos do do cabo-verdiano Germano Almeida, do guineense Carlos Lopes, do moçambicano Mia Couto e do português José Saramago.]

Sou de uma Europa de periferia
na minha língua há o estilo manuelino
cada verso é uma outra geografia
aqui vai-se a Camões e é um destino.

Velas veleiro vento. E o que se ouvia
era sempre na fala o mar e o signo.
Gramática de sal e maresia
na minha língua há um marulhar contínuo.

Há nela o som do sul o tom da viagem.
O azul. O fogo de Santelmo e a tromba
de água. E também sol. E também sombra.

Verás na minha língua a outra margem.
Os símbolos os ritmos os sinais.
E Europa que não mais Mestre não mais.

Bem sei, Ilustríssimo Senhor, que me acusarão de gastar assim o tempo nestas particularidades que pertencem à meninice, de um modo tão rasteiro e fora do discurso quer ninguém, que pretende a algum grau de literatura, gastar o seu tempo em ler o que escrevo. Mas não o julgou assim Plutarco, Quintiliano nem aqueles restauradores das letras humanas  Erasmo nem Luís Vives, em muitas das suas obras, ainda que decorado com o horroroso cargo de mestre de Filipe II. Estes referidos autores pus...