Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Outros Antologia Portugal
Textos de autores lusófonos sobre a língua portuguesa, de diferentes épocas.

Em tempo de el-rei D. Afonso Henriques capapelle era nome de uma certa vestidura; e não somente de tanto tempo, mas também antes de nós um pouco, nossos pais tinham algumas palavras que já não são agora ouvidas, como compengar, que queria dizer comer o pão com a outra vianda; e neminchalda, o qual tanto valia como agora nemigalha (1), segundo se declarou poucos dias há uma velha que por isto foi preguntada, dizendo ela esta palavra. E, era a velha a este tem...


Ó Portuguesa Língua, quando um dia
Floresceste nos rústicos cantares,
Quem te diria que, por sobre os mares,
Com tua alma o teu génio cresceria!

Soou na Terra a tua melodia
E pelo orbe criou nações e lares;
Com teu ritmo de impulsos e vagares
Foste laço de povos e harmonia.

Mas, ó Língua sagrada e Mãe gentil,
Tua glória maior de peregrina
E missionária donde génio flui,

Tu a criaste em terra do Brasil,
Depois que o padre António Vieira ensina
O seu aluno mais preclaro — Rui!

 

Hoje toda a gente diz portanto. Toda a gente é talvez um exagero, uma falta de rigor, mas toda a gente já reparou que muita gente diz portanto, a torto e a direito. Sobretudo gente culta, ou tida como culta, vá-se lá saber em muitos casos por que bulas, mais nas cidades do que no campo – políticos, militares, advogados, médicos, engenheiros, professores, estudantes, jornalistas, escritores, todos dizem portanto, dando a ideia de que se trata de palavra indispensável, ou p...

Sempre houve, desde o século XVI até ao realismo, grande amor à língua, à sua pureza e ao seu enriquecimento; abundam os pleitos sobre estilo e muitos foram os autores que fizeram declarações enfáticas de sacrificar a esse culto da sua linguagem a maior divulgação que lhes daria o uso da castelhana, entre eles António Ferreira e Frei Bernardo de Brito, como também houve os que souberam tornar-se clássicos tanto na portuguesa como na castelhana. Mas esses desvelos visavam à criação de um estil...

Um livro, para a escola velha, é um frasquinho cheio de «ciência»; um livro, para o laboratório, é como um estojo com instrumentos; por isso ele é decorado dentro da aula, e por isso no laboratório ele é usado.

As ideias, para o cientista, são ferramentas e são bússolas; para os estudantes, são ainda como panóplias de museu...

A cadência rítmica <br> do português arcaico
O exemplo de balada de Sancho I

«Os legítimos textos arcaicos não são uma floresta oscura, selvaggia ed aspra e forte, uma série de vocábulos raros e complicados, entrelaçados em construções bárbaras», ecreve neste apontamento a filóloga Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851 — 1925), transcrito da Introdução do livro Lições de Filologia Portuguesa.

A língua em que trabalha Anatole France é da mais pura liga. Admiremo-la e invejemo-la!

A nenhum povo concedeu a caprichosa Providência uma dinastia de lapidários da linguagem como a que teve a França do século de Corneille, de Racine, de Boileau, de Fénelon e de La Fontaine.

O português amador da gaia ciência, que, nado e criado neste mais velho rincão do país, "riberas del Duero arriba", fosse no século XIII à corte de Castela, onde tantos acudiam a terçar cantigas de amigo, de escárnio, e serranilhas, com os trovadores da aula régia de Afonso o Sábio, sem embaraço na sua língua falaria e versejaria. À roda do monarca, organizador da actividade intelectual de Espanha, como D. Dinis, seu émulo em poesias e letras, o foi em Portugal, modula-se o idio...

As palavras estrangeiras, entendendo por estrangeiras as que, não sendo portuguesas, não são contudo gregas nem latinas (ou árabes?), são de três espécies:

a)As que são absolutamente estrangeiras e ou não susceptíveis de nacionalização (como whisky, kirsh, que são paralelas, na matéria, a apelidos estrangeiros e aos nomes de terras estrangeiras que não tiveram nome latino ou grego como o são às citações em língua estrangeira, que haja necessidade de fazer), ou podendo t...

Tudo que seja defender e preconizar a beleza e pureza da linguagem é um óptimo serviço feito às Letras. Não quer dizer que esse louvor, para quem o entenda em sentido mesquinho, deva fempecer a vida latejante, a poesia alada, a originalidade e a arte de cada publicista, prendendo-lhe o voo às rebuscadas do Léxico. Já Eça de Queiroz dizia a Camilo, na deliciosa carta póstuma, que Camilo não chegou a ler: "Falando de V. Exª, eu considero sempre a sua imaginação, a sua maneira de ver o mundo, o ...