Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Textos de autores lusófonos sobre a língua portuguesa, de diferentes épocas.


Fosse eu pintor ou músico
(Pobre de sons, embora! Pálido de cor, que importa!)
Sempre haveria alguém que me entendesse
Em qualquer canto incógnito do Mundo.
Sempre haveria alguém que me dissesse:
— Músico, vem! Entra, pintor! — e abrir-me-ia a porta.


Mas da palavra eu fiz a minha ferramenta.
Sim, da palavra, como os loucos.
E quanto sinto e penso unicamente o digo em português,
Quase em silêncio, porque somos poucos.
Quase em família. E só por uma vez

Desagradecidos Portugueses, e desnaturais, são os que, por desculparem sua negligência, culpam a pobreza da língua. Bem sei que se na minha eloquência lançarem prumo, que lhe acharão poucas braças; mas nunca tão desleal serei à terra que na vida me sustém, e na morte consigo me há-de abraçar, que por me escusar a acuse, e por me livrar a condene...

O uso literário do português começou pelas formas poéticas, sob D. Sancho I (1154-1211) e principalmente quando os fidalgos que regressaram de França com D. Afonso III reproduziram como moda da corte o lirismo trobadoresco, que D. Denis aproximou da tradição popular. A redacção em prosa começou pelos latinistas eclesiásticos, traduzindo em português os Evangelhos e alguns livros moralistas dos Padres da Igreja.

De uma geração de «linguareiros sem gramática e sem escova de unhas»

«Falta-nos a precisão no termo exacto; falta-nos a elasticidade no giro da locução; falta-nos o rasgo pitoresco no desenho da frase; falta-nos a vibrante harmonia na orquestração do discurso. Coçamo-nos, contorcemo-nos, desarticulamo-nos, a querer dizer amor, e nunca nos chega a língua. Temos a prosa histérica, abastardada, exangue e desfalecida de uma raça moribunda.»

 

Texto da autoria de Ramalho Ortigão (1836 — 1915 ), publicado  no livro As Farpas, em coautoria com Eça de Queirós. Edição David Corazzi, tomo III, pág. 44 e ss., janeiro de 1884, in Paladinos da Linguagem, 1.º vol., Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1921. Título da responsabilidade do Ciberdúvidas

 

A semelhança entre certas particularidades, comuns ao português e ao japonês, com igual paridade entre o português e o malaio, explicam suficientemente o fenómeno, que pareceria extraordinário, de ser a representação portuguesa dos nomes de muitas regiões da Ásia, onde estivemos e dominámos, a mais fiel às pronúncias vernáculas, entre as de todas as línguas europeias. O mesmo se pode dizer a respeito da nomenclatura da África, a sul do Equador.

A influência de Portugal no Oriente não tem sido até hoje devidamente apreciada num conjunto, em toda a sua extensão e em toda a sua intensidade.

Tem-se escrito muito sobre os feitos gloriosos dos seus navegadores e conquistadores, sobre os actos heróicos dos seus capitães e governadores. Tem-se descrito graficamente o seu largo trato comercial, os seus vastos empórios, os labores penosos e o luxo deslumbrante de seus filhos nas colónias. Também se tem criticado severamente, pela orient...

Não há dúvida que daqueles tempos para cá (1) houve na língua portuguesa notável variação, por se seguir glorioso reinado ou – por melhor dizer – se fundar o novo império (como diz o Poeta) do felicíssimo rei D. Manuel; cuja corte, além de ser a de mais polícia de nossos reis, foi frequentadíssima de todas as nações; das quais, com a mistura dos idiomas, e com os polidos sujeitos que dali por diante se começaram a criar, saiu a nossa língua mais elegante e suave. Caso que com a sua toscana ac...


Ao pé de cada canto, hoje, sem pejo
Se tratam de Monsieur os Portugueses.
Isto, senhor, é moda, e como é moda,
A quisemos seguir, e sobretudo
Mostrar ao mundo que francês sabemos.

— De tanto peso pois (lhe volve o Lara)
É, padre jubilado, porventura
O saber o francês, que disso alarde
Fazer quisessem Vossas Reverências?
Por acaso, sem esse sacramento,
Não podiam salvar-se, e serem sábios?
Pois aqui, em segredo, lhe descubro
Que o francês, p...

Esta obra é engenhosa (1). Pretender a correcção da língua portuguesa foi um assunto de que ouvi sempre rir em Portugal. Se nessa matéria se não deve seguir tudo o que este autor escreveu, muitas regras se podiam tirar da sua invenção, para detestar algumas grosserias, que com pouco gosto conservamos no idioma português, as quais com pouco trabalho, e quase sem diferença, se podiam limar. Quanto aos vocábulos que acabam em ão como torrão, trovão, ladrão, sou bem contra eles, por...

Vozes de comando

Sendo a linguagem pintura do pensamento, e, como tal, objecto de arte e de gosto, não podia deixar de participar do espírito, do génio e do pensar do povo que a fala; assim como este mesmo, em todas as referidas cousas, depende inquestionavelmente da natureza da região que habita, do conspecto do solo e das influências de um astro mais ou menos benigno. (...)